Economia

Jantar-conferência Jornal de Leiria: Futuro do País passa por industrializar, ambicionar e arriscar

19 out 2023 11:30

Solução passa por deixar a postura que temos assumido, de “pedintes”, aguardando pelas “bazucas”

Álvaro Beleza, presidente da Sedes, falou aos empresários de moldes e plásticos das potencialidades do País, que urgem desenvolver
Álvaro Beleza, presidente da Sedes, falou aos empresários de moldes e plásticos das potencialidades do País, que urgem desenvolver
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Álvaro Beleza, presidente da Sedes, falou aos empresários de moldes e plásticos das potencialidades do País, que urgem desenvolver
Álvaro Beleza, presidente da Sedes, falou aos empresários de moldes e plásticos das potencialidades do País, que urgem desenvolver
Daniela Franco Sousa

Portugal tem condições para se posicionar entre os melhores.

A localização geográfi“ca, as condições climatéricas e a segurança são mais-valias que nos podem tornar na “Califórnia da Europa”, considera Álvaro Beleza, médico e presidente da Associação para o Desenvolvimento Económico e Social (Sedes).

Mas, para isso, é necessário que o País aposte num conjunto de medidas, que passam por reduzir a carga “fiscal, captar mais indústria de valor acrescentado e ter iniciativa para arriscar sem depender de “bazucas”.

Estas foram algumas das recomendações deixadas durante o jantar-conferência promovido pelo JORNAL DE LEIRIA, que se realizou na passada quinta-feira, na Quinta das Silveiras (Leiria), no âmbito do lançamento da revista Moldes & Plásticos 2023.

No evento, que contou com a parceria da Associação Nacional da Indústria de Moldes (Cefamol) e o do Centro Tecnológico da Indústria de Moldes, Ferramentas Especiais e Plásticos (Centimfe), dirigindo-se aos empresários dos sectores de moldes e plásticos, Beleza expôs várias medidas propostas no livro lançado pela Sedes, Ambição: duplicar o PIB em 20 anos, páginas de uma estratégia para Portugal, que terá um segundo volume em Maio.

Volvidos 50 anos, após a Revolução de Abril e 37 desde a entrada de Portugal na comunidade europeia, “temos uma economia ainda muito frágil e estamos muito atrás de países com a nossa dimensão”, observou o médico.

É o caso da Irlanda (onde as condições geográfi“cas são até mais desfavoráveis do que as de Portugal); Holanda (que tem dimensão e um percurso na história muito parecido com o do nosso País); República Checa (que entrou mais tarde na UE e já nos ultrapassou); e de Israel (que se tornou numa startup nation), exempli“cou o presidente da Sedes.

O nosso País reúne várias condições favoráveis, entre as quais uma “localização geográ“fica óptima”, que nos torna num “porto seguro” sempre que há conflitos no centro da Europa, o que nos permitiu ter um boom turístico nos últimos anos, relacionou Álvaro Beleza.

Mas se nos temos preparado para o turismo, não o temos feito em matéria de reindustrialização, notou.

Portugal, e a Europa no geral, deixaram que a Rússia dominasse nas questões da energia e estão a permitir agora que a China se eleve na questão automóvel.

Por outro lado, o País deveria investir mais na indústria da defesa, como já fez, afirmou, recordando o papel que teve a Fábrica do Braço de Prata, durante a Guerra Fria.

Mas são várias as condições que terá de trabalhar se quiser “dar o salto” em matéria económica, tornando-se na “Califórnia da Europa”, ressalvou.

Falta investir em indústria de valor acrescentado, com maior produção de automóveis, comboios, navios e aviões.

Álvaro Beleza lembrou como Franco transformou a indústria têxtil em indústria automóvel, que hoje é emblema de várias regiões de Espanha, e recordou como Bristol, na Inglaterra, se desenvolveu em torno da aeronáutica.

O nosso País, entende o médico, carece de “muitas Autoeuropas”.

“Temos lítio e por que não temos mais fábricas dedicadas aos veículos eléctricos?”, questionou, adiantando que, para ter mais indústria de valor acrescentado, é preciso que haja iniciativa política.

São necessárias escala, dimensão, grandes marcas e, para tal, são precisas políticas que ajudem as empresas a fundir-se. E a ligação entre academia, empresas e inovação tem de ser incrementada.

Ainda faz falta gente mais qualifi†cada a dirigir empresas, assim como fazem falta empresários a dar aulas, salientou Álvaro Beleza, apelando aos empreenderores para que também participem na política.

“Somos governados por muita gente académica, mas precisamos de gente que saiba como é difícil ter uma empresa. A vida não é uma tabela de Excel”, frisou o presidente da Sedes.

Embora “satisfeito” com algumas medidas previstas no Orçamento de Estado de 2024, que benefi†ciarão os jovens em matéria de IRS, o médico defende que é necessário uma verdadeira reforma a este nível.

Recorda que em Portugal a economia paralela pesa 34%, justificada pela elevada carga †fiscal, que move muitos a fugir ao †fisco.

“É preciso baixar e tornar razoável”, referiu, defendendo que, a fi†scalidade tem de abarcar todos e todos têm de preencher IRS, numa †fiscalidade mais simples.

Até Maio de 2024, a Sedes irá apresentar uma proposta de reforma fi†scal “ampla, que simpli†que o processo, com uma diminuição em todos os impostos”.

“Devemos ter os impostos todos um ponto abaixo do dos espanhóis.”

Reduzir a carga fi†scal permite atrair investimentos e aumentar a receita, considerou.

A estratégia para o País deve ainda assentar sobre um Estado Social, para que, num Portugal cada mais envelhecido, todos possam ter na saúde e na segurança social uma almofada, prosseguiu.

No que à política diz respeito, faz falta que os partidos portugueses se entendam para avançar com uma estratégia para o País.

“Portugal é um País muito grisalho, de dirigentes muito grisalhos”, pelo que é necessário ter mais jovens, que são “mais quali†cados, mais cosmopolitas e abertos” a desempenhar um papel activo na política.

Rui Tocha, director-geral do Centimfe, alertou Álvaro Beleza para outra dificuldade, que é a discrepância das regras aplicadas a empresas portuguesas e a outras, estrangeiras, que também estão presentes no nosso mercado.

Falta regulamentação e vigilância, apontou Tocha.

Por fim, o presidente da Sedes, afirmou que a solução passa também por deixar a postura que temos assumido, de “pedintes”, aguardando pelas “bazucas”.

A ideia é não depender só de fundos e leis europeias, mas arriscar e adoptar uma “estratégia global”, aproveitando o que "semeámos durante séculos de diáspora", para nos desenvolvermos "fora deste rectângulo", propôs Beleza.