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50 músicos de Leiria tocam o som das palavras de Camões, Rodrigues Lobo e Kurt Schwitters
Ensemble de sopros da Associação das Filarmónicas do Concelho de Leiria apresenta obras inéditas dos compositores Jorge Campos e Avner Hanani e ainda uma peça da compositora argentina Eva Lopszyc
“Caberia em qualquer sala internacional”, diz o maestro Alberto Roque sobre o concerto que vai dirigir no próximo domingo, 22 de Maio, em Leiria. Uma peça da compositora Eva Lopszyc e duas obras que são apresentadas ao público pela primeira vez, da autoria dos compositores Jorge Campos e Avner Hanani. O programa (completo aqui) explora, como ponto de partida, textos de Francisco Rodrigues Lobo, Luís de Camões e Kurt Schwitters.
“Não é todos os dias que se tem a oportunidade de ouvir música que nunca foi tocada”, reforça Alberto Roque, que vai estar a dirigir, no Teatro José Lúcio da Silva, cerca de 50 músicos profissionais oriundos das 11 filarmónicas do concelho de Leiria.
A entrada é livre, mas sujeita à lotação disponível.
O Som das Palavras, com início agendado para as 18 horas, é protagonizado pelo ensemble de sopros da Associação das Filarmónicas do Concelho de Leiria e conta com a participação em palco do recitante Luís Madureira.
O espectáculo no âmbito da Leiria Cidade Criativa da Música Unesco integra as comemorações do dia do município em Leiria e dos 400 anos da morte do poeta leiriense Francisco Rodrigues Lobo, assinalados em 2021.
“Construímos este programa em torno da palavra, tendo como ponto de partida o Rodrigues Lobo”, explica Alberto Roque. “É um projecto que tinha tudo para ser um sucesso não só noutros sítios do país, e eu gostaria que acontecesse, nós vamos esforçar-nos por isso, mas também fora dele”.
Ao longo de uma hora e mais 15 minutos, serão apresentadas três peças: em estreia absoluta, Ur-Symphonie, do compositor israelita Avner Hanani, a partir do poema fonético Ursonate do artista alemão Kurt Schwitters, com a participação do recitante Luís Madureira; também em estreia absoluta, Leanor, do compositor português Jorge Campos, que se inspirou na poesia de Francisco Rodrigues Lobo; e, a fechar, Ventos de Amor... Terras de Fogo e Mar, da compositora argentina Eva Lopszyc, inspirada em Luís de Camões, com o recitante Luís Madureira.
Avner Hanani é o autor da Trump Sonata, uma sonata para piano disponível no YouTube que utiliza excertos de discursos de Donald Trump, antigo presidente dos Estados Unidos.
Em Leiria, propõe uma obra “muito interessante e fora da caixa”, considera Alberto Roque, para quem o israelita é um compositor “com estatuto internacional”, além de “multifacetado”.
A criação assinada pelo português Jorge Campos também promete surpreender o público. “Ele descobriu uma gravação que existe do José Hermano Saraiva a recitar o poema do Francisco Rodrigues Lobo. A obra do Jorge o que faz é utilizar a narração do José Hermano Saraiva, à volta desta narração ele construiu a obra para banda e, uma espécie de chantilly no bolo, tudo isto é envolvido com electrónica e com mais uns elementos surpresa”, antecipa o maestro do ensemble de sopros da Associação das Filarmónicas do Concelho de Leiria.
O momento do concerto que viaja até ao universo de Luís de Camões é assinado pela argentina Eva Lopszyc, “uma das grandes compositoras femininas da América Latina”, sublinha Alberto Roque.
Além de relacionar Leiria com outras cidades da Rede de Cidades Criativas da Unesco, como é o caso de Hanover e Telavive, o espectáculo tem potencial “para circular internacionalmente”, acredita, pela qualidade da música e pela originalidade do programa, que promove a diversidade, a integração e a paridade.
“Estamos a fazer criação contemporânea, estamos a tocar música dos dias de hoje, estamos a criar música de compositores muito diferentes, de geografias totalmente díspares”, com “estéticas também diferentes”, cada um deles com “a sua voz”, o que é “interessante para o público”, diz ao JORNAL DE LEIRIA.
Quanto ao ensemble de sopros da Associação das Filarmónicas do Concelho de Leiria, “não há em Portugal, tirando as bandas militares, agrupamentos com estas características profissionais”, assegura Alberto Roque. O único equiparável, afirma, será a Banda Sinfónica Portuguesa no Porto que se apresenta regularmente na Casa da Música.
O maestro destaca o trabalho realizado desde o arranque em 2019, com a gravação e publicação dos Cadernos Filarmónicos. O primeiro dedicado a Ludwig van Beethoven e o segundo sobre Alfred Reed. O terceiro já está a ser preparado e foca-se no compositor francês Serge Lancen.