Sociedade
Aquele professor arruinou a minha vida
Todos nós tivemos docentes que nos marcaram pela positiva e pela negativa. O percurso académico de um jovem é influenciado pelos professores que encontra ao longo da sua vida de estudante.
Ana Silva está no segundo ano de Engenharia Biomédica. Sempre foi uma aluna acima da média e hoje é uma das melhores do seu curso. “A nota mais baixa que teve foi 18 valores”, afirma o pai Francisco Silva. No 11.º ano, uma professora de Físico- Química deixou-lhe marcas que ainda hoje prefere não lembrar. “Ela adorava Química e sempre teve boas notas, mas neste ano enfrentou a primeira negativa da sua vida”, acrescenta.
Segundo o pai, a docente, que até era uma excelente investigadora e boa tecnicamente, era incapaz de ensinar e explicar a matéria. “A turma baixou imenso as notas nesta disciplina. Não era apenas a minha filha, que tinha entre os 17 e 19 valores às outras disciplinas, mas também os colegas tinham sérias dificuldades, a ponto dos pais terem pedido intervenção da direcção”, revela.
Do outro lado, foi pedido para ser feita uma exposição por escrito. Depois de relatados os vários episódios que envolviam a professora e os alunos, entre os quais o “chamar burra quando foi colocada uma dúvida”, a direcção respondeu que a professora “tinha um bom desempenho” e que a “avaliação da turma estava de acordo com a média nacional”.
Francisco Silva lamenta que tenha “havido uma atitude corporativista” e que a direcção “nem se tenha preocupado em assistir a algumas aulas para perceber o que se passava”. “Para uma escola que quer ser referência nas Ciências, contentar-se com um 12 pareceme muito mau”, sublinha.
“Quando me apercebi do problema, já 80% da turma andava em explicações e eu tive de fazer o mesmo. Se a professora não estava bem, metia baixa ou pedia um ano sabático. Os alunos é que não podem ser prejudicados. A minha filha ainda se propôs a exame para melhorar o 12 e obteve 14, mas a média acabou por baixar”, acrescenta.
Ana Silva, que tinha o objectivo de se candidatar ao Instituto Superior Técnico, ficou “condicionada” e colocou esta universidade como segunda opção, “porque sabia que uma décima faz toda a diferença”.
A filha de Margarida Sousa enfrentou um problema idêntico. No 10.º ano, teve uma professora de Biologia, que “não tinha condições para dar aulas”. Segundo foi referido aos pais, a docente encontrava-se com uma depressão e “já não lhe passavam mais baixa médica”. “Pouco tempo depois das aulas se iniciarem a minha filha contou-me que tinham passado as últimas três aulas de duas horas a ver filmes. Durante esse tempo, ela [docente] dormia ou estava no facebook. No fundo, ela entretinha os alunos”, revela.
Margarida Sousa acrescenta que a “turma não era fácil” e a confusão na sala era generalizada. Os professores que davam aulas nas salas ao lado intervinham com alguma regularidade para pedir silêncio. “Numa das vezes, sem conseguirem resolver o barulho, chamaram o director para pôr ordem.”
Sendo uma turma de ciências, os alunos iriam fazer exame de Biologia, o que preocupava os pais. A direcção foi informada várias vezes sobre o problema e a solução que encontrou foi dar a esta turma uma hora suplementar no 11.º ano para tentar recuperar. “Claro que isso não sucedeu. A matéria tinha de ser dada e faltavam aos miúdos muitas bases. O exame de Biologia correu muito mal”, constata Margarida Sousa, exemplificando com uma aluna que tinha 20 valores a Matemática e a Fisico-Química não chegou ao 14 no exame de Biologia.
Esta jovem, que queria ir para Medicina, repetiu a disciplina e ainda pediu reavaliação da prova para melhorar a sua média. “Não faz sentido cortarem as pernas aos alunos, quando eles lutam por aquilo que querem, esforçam-se e vêem em risco não entrar no curso que pretendem por causa de um professor”, critica Margarida Sousa, alertando que as direcções das escolas deveriam deixar o corporativismo de lado e tentar encaminhar estes docentes para outras funções que não dar aulas. A filha de Margarida Sousa seguiu fisioterapia. “A média foi prejudicada e não conseguiu entrar no público. Está no privado e eu a pagar.”
Esse é um problema que Cristina Santos também está a enfrentar neste momento. A filha entrou este ano no 10.º ano e deparou- -se com uma docente, também de Físico-Química, que “não sabe explicar”. Aluna de 5 no ensino básico, Laura queixa-se que “não percebe nada daquilo e já nem tem vontade de estudar”. O primeiro teste foi negativo. No segundo ainda está para chegar o resultado. “Se tiver negativa neste período vou ter de pagar explicações. E os pais que não puderem fazê-lo? As aulas de apoio são, sobretudo, para tirar dúvidas, se os alunos não percebem a matéria pouco ou nada vão lá fazer”, refere Cristina Santos.
Explicações obrigatórias
Esta mãe sublinha que o problema é geral, já que mais de metade da turma tirou negativa e queixa-se de não perceber nada. “Se eu nada fizer, a minha filha arrisca-se a ter negativa ou a prejudicar as médias para o ensino superior. Além disso, perde bases essenciais para os próximos anos.”
Francisco Silva lamenta que não haja soluções para estes professores que têm uma grande interferência no futuro dos jovens. “No caso da minha filha, ela sempre foi empenhada, bem comportada e esforçou-se para tirar óptimas notas e depois ouve uma professora chamar-lhe burra porque tem uma dúvida. Isso é inconcebível.”
O professor que mudou a minha vida
Durante o percurso académico muitos são os professores com que os estudantes se cruzam. Alguns passam sem deixar marca e anos depois já nos esquecemos que eles existiram. Outros, pela sua incapacidade de relaciona- mento ou de explicar a matéria, não são esquecidos pela forma negativa como nos influenciaram. Há ainda aqueles docentes que ficam para sempre na nossa me- mória pela influência positiva que tiveram.
Estes professores são, muitas vezes, responsáveis pelas opções que tomamos na vida. Foi o caso de Marco Roda e de Inês Gonçalves. Estes dois estu- dantes não têm dúvidas em afir- mar que as escolhas que fizeram no seu percurso académico foram influenciadas por dois bons professores.
Leia mais na edição impressa ou torne-se assinante para aceder à versão digital integral deste artigo