Sociedade
As alterações ao projecto do topo Norte que fizeram disparar o custo de 7,5 para 13 milhões de euro
Câmara justifica a derrapagem com alterações ao projecto- -base para introduzir melhorias, “de forma a tornar este espaço atractivo ao investimento na área das novas tecnologias.
Aquando do anúncio do resultado do concurso de ideias para transformar o topo Norte do Estádio Municipal de Leiria em centro de negócios, os vereadores do PSD já tinham avisado: o valor previsto - 7,5 milhões de euros – era “manifestamente insuficiente”. O tempo deu-lhes razão. O projecto de arquitectura e especialidades, aprovado na terça-feira, aponta para uma estimativa de custo de 13 milhões, ou seja, um acréscimo superior a 73% face ao valor inicial.
A oposição fala num aumento “obsceno”, enquanto a maioria socialista que governa a Câmara justifica a derrapagem com alterações ao projecto-base para introduzir melhorias, “de forma a tornar este espaço atractivo ao investimento na área das novas tecnologias”, dispondo ainda de um Centro Associativo e de Artes, com auditório para 60 pessoas.
Esta última valência funcionará na torre Poente e resulta de uma alteração, em sede de projecto, à ideia inicial. Dá-se agora prioridade a espaços para as colectividades desenvolverem actividades (dança, música, arte performativas e artes plásticas), em detrimento de áreas para as suas sedes, uma componente que, de acordo com a deliberação da Câmara, poderá ser mantida no edifício do mercado municipal.
Em comunicado, a Autarquia explica que a “grande alteração” introduzida ao projecto do Centro de Negócios de Leiria passa pela “melhoria das instalações em termos técnicos, tecnológicos e de segurança do edifício, que se torna moderno e inteligente”. Será, por exemplo, feita a colocação de um piso técnico, “essencial” para permitir a instalação de empresas de matriz tecnológica.
Outra das novidades do projecto é a alteração na fachada interior do estádio. A ideia inicial, que apontava para uma solução com painéis em betão forrados com imagens das margens do rio, dá agora lugar a uma fachada em caixilharia de vidro, de forma a permitir a criação de uma zona de lazer e a visualização do relvado. Esta última foi, segundo se lê na deliberação que aprova o projecto, uma “exigência” da Autoridade Tributária, que ocupará a torre Nascente, em regime de arrendamento e não de compra, como chegou a estar previsto.
Principais alterações e impactos no custo da obra
- Instalação de piso técnico, que inclui a passagem das infraestruturas (cablagem eléctrica, condutas de AVAC e tubagens de água): + 1,5 M€
- Alterações ao nível da iluminação, telecomunicações e segurança activa: + 1,2 M€ 3
- Aumento em 1.187 m2 da área de intervenção: + 1 M€
- Alterações à estrutura do edifício: + 0,7 M€
-- Redesenho da fachada sul (a proposta inicial previa a instalação de painéis de betão com imagens da margens do rio Lis; agora, projecta-se a fachada em caixilharia de vidro, controlada por telas exteriores de sombreamento, permitindo vistas para o relvado): + 0,7 M€
- Instalações, equipamentos e sistemas de segurança integrados: + 0,4 M€ 3 Criação de centro de artes (dança, música, arte performativas e artes plásticas) na torre Poente – não há dados referentes ao impacto no custo da obra
Naquela nota de imprensa, a Autarquia explica que as alterações (ver caixa) resultam da participação de um conjunto de entidades externas, como o Politécnico, a Nerlei – Associação Empresarial da Região de Leiria, e o grupo TICE.Leiria e entidades associativas das áreas da cultura e do desporto, “tendo os contributos apresentados enriquecido o projecto”.
O resultado é uma proposta que torna o edifício “moderno e inteligente”, que ajudará Leiria a ser “uma cidade de negócios, empreendedorismo, inovação e cultura, aberta a empresas e talento de todas as proveniências”, alega o Município.
PSD antevê custos de manutenção “colossais”
A aprovação do projecto contou com a abstenção dos vereadores do PSD, que criticam a “enorme derrapagem” dos custos estimados, que “se cifra na ordem dos 75%”, com “um aumento de cerca de 5,5 milhões de euros”. Um valor “obsceno”, alegam, contestando ainda a ausência de “um estudo económico de suporte a futuras utilizações” e a indefinição em torno do “tipo de gestão/exploração do espaço”, lembrando que essa fundamentação foi “utilizada para a suspensão do Pavilhão Multiusos”.
Os eleitos do PSD advertem ainda que, face “aos materiais e soluções arquitectónicas escolhidas, muito dificilmente este projecto não ficará abaixo dos 15 milhões de euros” e terá custos de manutenção “colossais”.
Considerando que o projecto merece discussão pública, os sociais-democratas frisam que a obra “será inteiramente suportada pelos cofres da Câmara”. “Face à situação de emergência que se vive actualmente em todo o País, consideramos que, nesta altura, existem outras prioridades para os leirienses, nomeadamente na consolidação da coesão social”, defendem.