Sociedade

Associação de apoio a peregrinos chega ao fim

1 jul 2021 17:26

Associação de Amigos dos Caminhos de Fátima diz-se "atropelada" pela Rota Carmelita e pelo Caminho do Centenário

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Associação tinha por missão ajudar peregrinos a fazerem o caminho rumo a Fátima e Santiago
Ricardo Graça
Redacção/Agência Lusa

A Associação de Amigos dos Caminhos de Fátima terminou a sua actividade de apoio aos peregrinos por considerar que os novos projectos, criados por municípios e outras entidades públicas, vieram "atropelar" os caminhos antigos.

"Nos últimos 13 anos, a Associação de Amigos dos Caminhos de Fátima levou a cabo a missão de ajudar milhares de peregrinos a fazerem o caminho rumo a Fátima e Santiago pelos campos, de forma segura e com tranquilidade. [..] Devido à proliferação de caminhos turísticos (Caminho do Centenário, Rota Carmelita e outros projectos em desenvolvimento) que atropelaram os nossos caminhos, a nossa missão deixou de ser possível realizar", afirma a entidade, citada pela Lusa.

Em causa, refere, está acima de tudo o projecto criado em 2016, antes da ida do papa Francisco à Cova da Iria, por vários municípios portugueses, que se juntaram e criaram a Associação Caminhos de Fátima para desenvolver novos caminhos. "Passou a ser uma competição contra entidades públicas que, devido à obtenção de fundos europeus, desenvolveram um súbito interesse peregrino. Apesar da nossa boa vontade ser ilimitada, os nossos recursos não o são", comunica a Associação de Amigos dos Caminhos de Fátima (AACF).

O problema, nota o presidente da AACF, Rodrigo Cerqueira, é que os novos caminhos criados por essa associação de municípios chocam com o antigo caminho de Fátima, com mais de 700 quilómetros sinalizados, e que utiliza grande parte do percurso em sentido inverso do caminho de Santiago de Compostela, todo ele feito pelo campo.

Os "atropelos" com esse caminho foram feitos quer com a Rota Carmelita quer com o Caminho do Centenário, projectos da associação de municípios, criando confusão e revolta junto dos peregrinos, disse à agência Lusa Rodrigo Cerqueira.

"Recebemos tantas centenas de chamadas de peregrinos perdidos, desorientados e percebemos que algo de errado tinha acontecido. Andámos à procura de perceber por onde esses caminhos passavam, mapeámo-lo e comparámos com os caminhos existentes [o trabalho está disponível no site da associação caminho.com.pt]", notou.

Segundo Rodrigo Cerqueira, a confusão instalou-se de forma mais vincada a partir de Abril.

Sem contactos, os peregrinos ligavam para a sua associação a protestar, recordou, frisando que o Caminho do Centenário acaba por "ser imposto" ao peregrino, por causa da sinalética.

Responsáveis por albergue para peregrinos confirmaram à Lusa que "as confusões têm surgido".

Se no caso da Rota Carmelita (Coimbra a Fátima) é possível encontrar os ficheiros GPS, já no Caminho do Centenário não surge qualquer ficheiro de apoio, apenas um mapa, que a Lusa não conseguiu exportar e onde são indicados mais de mil pontos de interesse gastronómico, cultural e hoteleiro.

Questionado pela agência Lusa, o presidente da Câmara de Pombal, Diogo Mateus, que preside à Associação Caminhos de Fátima, escusou-se a "comentar as opiniões de uma associação", salientando que há "a maior liberdade do peregrino de escolher o caminho que bem entenda".

O autarca frisou que os caminhos traçados foram criados para serem uma alternativa "mais segura" que a rota mais usada (pela estrada nacional número 1) e realçou que a associação a que preside "não é de apoio específico ao peregrino".

"Sempre estivemos de braços abertos para receber essa associação", acrescentou. Segundo Diogo Mateus, as aplicações relacionadas com as rotas criadas deverão estar prontas antes de Outubro.