Sociedade
Barreiras ainda não foram totalmente derrubadas
Acessos facilitados a organismos públicos, avisos sonoros nas passadeiras, árvores fora dos passeios ou estacionamento mais acessível são ainda reclamados por quem não vê ou tem patologias motoras.
Depois de tanto se falar em eliminar barreiras arquitectónicas para tornar as cidades, cada vez mais, inclusivas, o JORNAL DE LEIRIA foi tentar perceber se Leiria está um concelho mais acessível.
Se é verdade que muito já foi feito, o mesmo se pode dizer em relação ao que ainda falta fazer. Cegos e deficientes motores continuam com um dia-a-dia desafiante todas as vezes que se aventuram nas ruas da cidade.
A falta de civismo é um dos problemas apontados por algumas pessoas. Estacionamento em cima do passeio, utilização de lugares para deficientes por quem não tem esse direito, falta de avisos sonoros nos semáforos, a indicar a possibilidade de atravessamento para os peões e até melhoramentos nos lugares para veículos adaptados são outras das reclamações.
Graça Vieira nem sempre foi cega, mas desde que a visão desapareceu foi obrigada a adaptar-se a viver na escuridão do dia-a-dia. Com uma boa disposição contagiante, evidente à medida que conversa sobre as suas dificuldades, a funcionária de uma escola de Leiria considera que muitas barreiras já foram caindo, inclusive, na “sensibilização dos cidadãos”.
“Antes notava-se que a ajuda era por caridade. Era o 'coitadinho'. Hoje, as coisas são diferentes. As pessoas disponibilizam-se para ajudar, mas com uma abertura diferente, de forma natural. Há mais formação e sensibilização, o que tem contribuído para formar as pessoas”, salienta Graça Vieira.
A funcionária desloca-se a pé diariamente de casa para o trabalho. O percurso não é longo, mas os obstáculos são vários: candeeiros em cima do passeio, carros mal estacionados, passeios com lancis demasiado baixos e escadas sem protecção. Mesmo junto à sua casa já caiu por falta de gradeamento num pequeno lanço de escadas. Não há dúvida de que o perigo espreita em cada esquina.
Andaimes de obras, buracos no passeio assinalados apenas por uma fita e prédios com varandas no 1.º andar quase à altura de uma pessoa são outros obstáculos que surpreendem quem é cego e que não são ultrapassáveis com o uso da bengala. Graça Vieira exemplifica: uma camioneta mal estacionada e que seja mais alta, a bengala passa por baixo e não detecta o veículo. “
Já bati com a cabeça no carro, sem saber que lá estava.” Outros ferimentos podem ser causados por embates em toldos, placas de publicidade, sinais de trânsito, cordas da roupa e até ramos de árvores.Em Leiria já há várias passadeiras, onde foi colocado um piso “pitonado”, ou seja, com ligeiros relevos, que identificam uma passagem para peões. Esta é uma ajuda para quem é cego.
Alguns semáforos já tiveram avisos sonoros, mas o sistema foi desactivado. Graça Vieira considera um elemento “muito importante” para quem não vê. “É uma forma de avisar quando podemos atravessar.” Ana Valentim, vereadora da Acessibilidade da Câmara de Leiria, informa que o desligamento dos semáforos é resultado de um problema técnico, que está a ser reparado e que deve voltar a funcionar “a curto prazo”.
Os transportes públicos também estão mais acessíveis. No entanto, Graça Vieira defende que para os cegos facilitava o anúncio por voz da próxima paragem, à semelhança do que sucede com o metro de Lisboa.
“Não sei se seria viável ou se o investimento e
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