Desporto
Campeonato parado, treinos a dois e a espera até poder ver a família
Com a Bundesliga parada, andebolista Maria Pereira continua a trabalhar, mas as saudades de casa apertam.
Após quatro anos a jogar na Islândia, Maria Pereira resolveu experimentar o campeonato alemão. Está na segunda época ao serviço das Vipers, clubes de uma pequena cidade termal louca por andebol. Uma nova adaptação a um país, a uma língua e a um campeonato diferentes “é sempre difícil”, mas para a vida da andebolista de Calvaria de Cima, Porto de Mós, a partida de Hafnarfjörður para Bad Wildungen “não mudou tanto assim”. Até que surgiu o coronavírus.
A desportista rumou à Bundesliga para poder conciliar a profissão de fisioterapeuta com a carreira de andebolista de alto nível que um dia começou no Batalha Andebol Clube. No entanto, desde o dia 7 de Março, faz agora um mês, que a bola não rola. As competições estão paradas e ainda não se sabe quando e se serão retomadas.
“O campeonato acabou por ser cancelado e ainda não se sabe bem como irão fazer a distribuição da classificação. Com isto, iremos estar sensivelmente sete meses sem competição, o que, em termos de alta competição, acaba por ser muito tempo. Isto claro, se pensarmos no regresso à competição em Setembro deste ano.” O que ainda não é líquido que aconteça.
De qualquer forma, o trabalho de casa tem de ser feito, ainda para mais quando se mudou para um campeonato muito mais competitivo, na pátria do andebol. “Tenho uma rotina muito exigente e se falho nessa parte acabo por sentir algumas diferenças, nomeadamente físicas”, explica a internacional portuguesa de 29 anos.
Maria Pereira, sistematicamente convocada para defender as cores nacionais, admite o “impacto grande” da pandemia na sua vida. “E ainda ninguém sabe bem quais serão as consequências”, diz a atleta.
Explica “as medidas tomadas face a este vírus demoraram a chegar”, por ser um “país rico”, com um “bom sistema de saúde” e uma “grande potência económica”. “A demora deve-se a isso”, explica Maria Pereira. “Tendo uma grande capacidade de resposta na área da saúde, não quiseram comprometer a economia até que os números começassem realmente a ter um impacto muito grande. Quando em Portugal já se tinha fechado escolas, eles achavam que estava tudo a exagerar. Aos poucos foram tomando medidas, mas de forma muito controlada.”
Na região onde vive, em Hessen, não existe quarentena obrigatória, mas rua só podem estar duas pessoas juntas ou um agregado familiar. A primeira semana, admite, “foi difícil de passar”. “
Agora já criei uma rotina e acaba por ser mais fácil.” Continua a trabalhar, e a parte desportiva foi adaptada. “Passámos a fazer treinos na rua com apenas uma colega de equipa. E temos tido sorte com o tempo.”
Mas a verdade é que está a milhares de quilómetros dos que mais ama e ignora o dia de amanhã. Teve de permanecer na Alemanha com a incerteza se se entraria em quarentena obrigatória e quais seriam as medidas que as autoridades tomariam. Agora não há forma de voltar. “Essa parte foi a mais dolorosa, não saber quando regressarei a Portugal e quando estarei com as minhas pessoas.”