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Com "Fátima", João Canijo filmou uma peregrinação sobre fé e mulheres
João Canijo queria filmar a relação de grupo entre mulheres e o pretexto foi uma peregrinação a pé a Fátima, "a ideia mais portuguesa das ideias portuguesas", a propósito da próxima longa-metragem.
Fátima, que se estreia no próximo dia 27, é um filme de ficção, inspirado na realidade portuguesa, interpretado por 11 actrizes que acompanharam várias peregrinações e a vida de uma localidade transmontana, para depois construírem as personagens.
É de Vinhais, no distrito de Bragança, que parte a narrativa do filme e também a peregrinação mais longa até Fátima, com mais de 400 quilómetros.
"Não começou por ser um filme sobre a crença, mas sobre as relações de grupo. E as relações de grupo entre mulheres parecem-me muito mais interessantes do que com homens à mistura", explicou João Canijo.
No filme participam as actrizes Rita Blanco, Anabela Moreira, Cleia Almeida, Vera Barreto, Teresa Madruga, Ana Bustorff, Teresa Tavares, Alexandra Rosa, Íris Macedo, Sara Norte e Márcia Breia.
O realizador, que já trabalhou com grande parte destas actrizes em filmes como "Sapatos Pretos" (1998), "Mal nascida" (2007) e "Sangue do meu sangue" (2011), quis ainda filmar a relação de cada uma das mulheres com a fé.
"A necessidade da fé, a necessidade que a Humanidade tem de algum tipo de fé. Não é forçosamente a católica, a Humanidade sempre teve essa necessidade de acreditar em algo transcendente e isso foi uma coisa que me interessou muito, perceber porquê. Não pretendo explicá-lo, mas perceber até onde é que isso pode levar as pessoas", disse o realizador.
Para este filme, João Canijo fez ele próprio uma viagem a pá a Fátima, mais curta - de 80 quilómetros -, para perceber o que sente e sofre quem faz esta peregrinação.
A caminhada para Fátima, ao contrário de outras peregrinações, como o famoso Cainho de Santiago, assenta numa ideia popular e algo arcaica de sofrimento como expiação e pagamento de promessas.
O objectivo não é o de crescimento interior mas chegar à Cova da Iria, no menor tempo e, com muito sofrimento. É quase uma via sacra onde os peregrinos se autoflagelam em vez de considerarem a contemplação da vida e procurarem a paz interior.
Apesar de "Fátima" ter uma base documental, o realizador alerta: "foi tudo absolutamente estudado". Embora não tenham feito os 400 quilómetros da peregrinação, as actrizes "andaram durante cinco dias sempre juntas e foram filmadas o tempo todo", incluindo a chegada, a 12 de maio, ao santuário de Fátima.
"Confunde-se, como em tudo, o personagem com a persona, mas isso é sempre assim. Os actores nunca saem de si próprios, não se transformam em mais ninguém. E essa confusão também me agrada bastante", disse.
Antes de chegar aos cinemas, "Fátima" será mostrado em antestreia em Vinhais.
No final do ano deverá estrear-se na RTP uma série baseada na rodagem e que, segundo João Canijo, tem mais desenvolvimentos ficcionais de cada uma das personagens.
Lusa/JORNAL DE LEIRIA