Sociedade

Como imagina Leiria daqui a 20 anos?

21 mai 2022 13:30

A propósito do Dia do Município, que se celebra no domingo, dia 22, desafiámos um grupo de pessoas a imaginar Leiria daqui a duas décadas.

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Há quem imagine o estádio municipal coberto e quem espere que, dentro de 20 anos, a poluição suinícola seja um problema do passado
Ricardo Graça
Maria Anabela Silva

A propósito do Dia do Município, que se celebra no domingo, dia 22, desafiámos um grupo de pessoas a identificarem o que mais gostam e o que menos gostam em Leiria e a imaginar Leiria daqui a duas décadas.

Entre a projecção e o sonho, há quem deseje, em 2042, uma cidade servida com TGV, com mais espaços verdes e melhores transportes públicos, onde seja “natural” usar a bicicleta ou as pernas para fazer grande parte da vida local e diária e com um centro histórico “totalmente” renovado, dinâmico e atractivo.

Entre as repostas, surge também o sonho de uma cidade “mais planeada” e com “melhor organização”, “cheia” de empresas “ultra-modernas” e que “continue” a ser acolhedora. Há ainda quem imagine o estádio municipal coberto e quem espere que, dentro de 20 anos, a poluição suinícola seja um problema do passado.

AS PERGUNTAS:

1 - O que mais gosta e o que menos gosta em Leiria?

2 - Como imagina Leiria daqui a 20 anos?

Alexandra Azambuja, publicitária

1 - Mais: a dimensão da cidade, que permite circular apenas de forma pedonal e de ser uma cidade segura. É ainda a cidade onde tenho mais raízes e memórias. Menos: a gestão autárquica, que nas últimas décadas tem tido pouco respeito pelas zonas verdes e pelo verdadeiro desenvolvimento cultural.
2 - Daqui a 20 anos imagino Leiria servida pelo TGV, com a questão das suiniculturas resolvida, os edifícios adquiridos pela autarquia finalmente ao serviço dos habitantes e uma associação cívica que lembre aos autarcas no poder que a cidade é de quem a vive.

Miguel Ferraz, produtor da Casota Collective e A Porta 

1 - Mais: É uma cidade relaxada, segura e sem grandes confusões que devido à sua proximidade da costa e dos dois grandes centros metropolitanos, faz com que Leiria, à sua escala, tenha uma qualidade de vida quase invejável. Menos: O facto de o centro da cidade continuar a permitir o acesso ao trânsito comum, privilegiando muito pouco a circulação pedestre, tira alguma alma à cidade. Continuar isolada do resto do país no que diz respeito a viajar de comboio, é algo que também não me agrada. 
2 - Uma cidade totalmente ciclável, mais verde e com maior qualidade de transportes públicos, incluindo uma ligação nacional de comboios. Imagino que desde a rotunda do Sinaleiro até à rotunda do Maringá, apenas seja possível a circulação de bicicletas e seus semelhantes, transportes públicos, serviços de táxi, ambulâncias, polícia e residentes, à semelhança do que acontece na quase totalidade das cidades do norte de Itália. Uma cidade que se assume e aposta como um pólo cultural de referência nacional.

Marcelo Brites, investigador

1 - Mais: a dinâmica cultural que as várias associações existentes no concelho têm, capazes de nos presentearem constantemente com novidades e geradoras de dinâmica e conhecimento Menos: a poluição dos rios e o mau cheiro que de quando em vez vem das pecuárias, e a aparente e sistémica conivência e inacção ao longo dos anos das instituições e entidades que têm o dever moral e legal de zelar pela saúde pública. 
2 -Daqui a 20 anos, prefiro imaginar como a gostava de encontrar, uma cidade que se sabe afirmar culturalmente, com uma pujança industrial ainda maior, assente numa economia verde e na investigação, capaz de atrair investidores e realizar investigação de qualidade internacional. 

Ana Rita Leitão, arquivista
1 - Mais: A proximidade. A espaços, serviços e pessoas que, genericamente, são muito agradáveis e solícitas. Existe um conjunto de equipamentos e respectiva programação com qualidade muito satisfatória. Menos: Preocupa-me o aumento da população que se reflecte na sustentabilidade ambiental. A constante insuficiência de habitação, transportes e infraestruturas e o aumento da pegada ecológica
2 - Um espaço sustentável, dinâmico e ecléctico. Equilibrado entre povoamento e serviços; assente na mobilidade urbana e o fim dos combustíveis fósseis. Uma sociedade necessariamente adaptável, flexível e concomitantemente muito estável. Garantia de bem-estar das pessoas cidadãs do futuro.
João Gonçalo Lopes, arquitecto

1 - Mais: A resposta poderia ser muitas coisas e varia com os dias. Eu tenho gostado do bairro do castelo onde moro. Gosto da proximidade e da diversidade de pessoas que lá vivem, mesmo que não sinta ainda que essa diversidade de pessoas tenha sido propriamente incluída na cidade e apareça mais visível nos restaurantes e lojas. Gosto também da diversidade de freguesias que temos à volta. Cada uma delas com vidas muito próprias, espaços meio cinzentos onde tudo se mistura, do novo ao antigo e ao confuso, da produção doméstica à industrial, onde o fazer acontece sem se anunciar. Menos: Não gosto do 'fachadismo' nem da especialização dos espaços que a cidade/administração opta por seguir. Entristece-me sentir que é essa a direcção em investimentos que poderiam investir num pensamento de longo prazo e envolver a população em conversas abertas.

2 -Com o tamanho de Leiria haveria o potencial para entendê-la numa escala maior e fazer dela uma rede de tantos espaços diferentes e ricos, sem ter que recorrer apenas ao carro. Imaginava uma cidade em que fosse natural usar a bicicleta ou as pernas para fazer grande parte da vida local e diária. E num raio muito pequeno teremos acesso à serra, à mata, à praia, hortas, escolas, parques, indústrias e centros culturais e desportivos. Pelo que vejo há uma vontade das pessoas de caminhar e andar de bicicleta, mas essas actividades são remetidas para os tempos livres. A cidade soube fazer essas bandeiras, mas falta o mais difícil que é criar isso uma dinâmica de todos os dias e não só de dias especiais e espampanantes. Se houver mais investimento em percursos e ciclovias (de forma séria) entre freguesias haverá de certeza menos necessidade de investir tanto em estradas. Mas imagino que tenha que ser um exercício de ver a cidade numa escala maior e, perante as dificuldades, lutar para que não fique tudo apenas no papel. 

Lisete Cordeiro, directora-geral da InPulsar

1 - Mais: de andar a pé pela cidade, particularmente na zona da beira rio e pelas ruas do centro histórico. Gosto do dinamismo cultural e associativo, ainda que nem sempre seja valorizado e/ou falte um verdadeiro espírito de cooperação. Menos: das casas devolutas que proliferam pela cidade de Leiria numa altura em que há tanta procura de casa no mercado de arrendamento privado. 
2 - Daqui a 20 anos imagino uma cidade limpa, organizada, com uma boa rede de transportes públicos e uma oferta cultural para tod@s. Com um centro histórico realmente dinâmico e atractivo, com uma clara aposta na reabilitação de edifícios, no comércio de rua, na cultura e na criação de novos equipamentos e espaços públicos.

João Costa, presidente da Adlei

1 - Os leirienses são sem dúvida o que mais gosto, apesar de algumas marcas culturais menos boas, somos uma população capaz, trabalhadora, que sonha e arrisca. Por oposição, a falta de liderança e de diálogo livre e aberto que nos permita, enquanto comunidade, evoluir.
2 - Daqui a 20 anos gostava que Leiria fosse mais organizada. As nossas freguesias fossem mais confortáveis, e espaços de vida como o foram no passado. Gostava de voltar a ver o Pinhal de Leiria. É legítimo ambicionar uma comunidade mais independente, mais sustentável e, sobretudo, mais internacional.

José Cunha, pres. da UF de Leiria, Pousos, Barreira e Cortes

1 - O que mais gosto em Leiria são as pessoas. Elas são hospitaleiras na recepção e integração de quem nos visita ou procura. São elas que, diariamente, nos preparam e servem maravilhas gastronómicas que nos alimentam o corpo e a alma; Porque dinamizam o comércio, a indústria, os serviços, desenvolvem a economia e nos trazem mais desenvolvimento; Pessoas que tratam e renovam o património edificado, tornando a cidade mais bonita e atractiva; São elas que nos proporcionam cuidados para melhorar a nossa saúde e qualidade de vida; Porque são voluntárias e trabalham com afinco em projectos sociais, culturais ou desportivos e que nos proporcionam lazer e bem-estar. Intencionalmente não digo o que menos gosto. Em dia de aniversário, devemos realçar o positivo. 

2 - Estamos em constante mudança, muito condicionados e dependentes da evolução tecnológica, do consumismo desenfreado, da exploração excessiva dos recursos naturais, das alterações climáticas, dos fenómenos atmosféricos extremos, da demografia… de vírus e guerras, do imprevisto. Direi que, daqui a 20 anos, Leiria estará condicionada pelas decisões que hoje se tomam. Imagino que continuará a ser uma cidade acolhedora e integradora, com segurança, altos níveis de qualidade de vida e mais cosmopolita.

Patrice Gaspar, barbeiro

1 - Como sou uma pessoa do presente, começaria por dizer que o facto de Leiria querer ser sempre a melhor, faz as pessoas que nela habitam entrar numa espécie de competição. Há necessidade de se mostrarem os melhores carros, a melhor indumentária, quando isso na verdade é um fait divers. Se entendermos que a cidade tem crescido à conta dos emigrantes e do multi-culturalismo, temos de ter noção, como tínhamos quando jogamos SIM CITY, que, para as pessoas estarem felizes, tem de haver segurança. As pessoas têm de ter acesso à habitação a preços acessíveis, as ruas bonitas, mas funcionais e não atrofiadas consoante um camião pare para despejar o lixo. Somos pouco exigentes, porque quando um cano rebenta a estrada pode ficar com o tout venant durante meses e ninguém pede explicações. 

2 - Sem terem de me pagar como penso Leiria a 20 anos, ofereço as minhas ideias. Por um lado vejo que há pessoas que perderam a paixão por Leiria e que vão fazer vida para quem lhes der mais pão para a boca. Por outro, vejo que os resistentes a transformar esta cidade com revolta pelas diferenças entre ricos e pobres que se está abrir precedentes. Haverá mais foco em turismo e capacidade de fixar uma pessoa a Leiria. Vejo Leiria como uma Silicone Valey de Portugal cheia de empresas ultra-modernas em tecnologia, capazes de exportar para o resto do Mundo. Vejo o 'meu' Sol Leiria transformado para bem da comunidade e vejo o desporto como foco principal, com o futebol [União de Leiria] na primeira liga e a ser  preciso pagar para ir ao estádio que, entretanto, foi coberto.

Joana Marcelino, arquitecta

1 - 1- É impossível reportar estas repostas sem associar à minha dinâmica pessoal, familiar e profissional na actualidade. Mais: da qualidade de vida que consegui criar através do meu investimento pessoal e profissional imobiliário, na cidade, quando ainda tinha apenas 26 anos. Vinha de 6 anos de vivência em Lisboa durante a faculdade, mais propriamente na zona da Ajuda e recordo-me de palmear as ruas e olhar para dentro dos apartamentos fantásticos em prédios a precisar de renovação exteriormente, em zonas de interesse histórico. Foi assim que tive coragem de fazer este investimento no ultimo piso do prédio, em 2007, que claramente não estava em bom estado quer no interior, quer no exterior e quando ainda poucas pessoas ou investidores pensavam sequer em reabilitar no centro histórico, principalmente em edifícios sem condições de mobilidade, ou seja elevador e garagem, no centro de Leiria. Associado ao meu investimento, actualmente e já com família, está o que o município e as entidades publico privadas oferecem, ou seja, os jardins, os espaços públicos e culturais e os diferentes serviços associados, educação, desporto, comercio, restauração, etc. Os meus filhos vão para a escola a pé e as compras diárias são feitas no comércio local assim como os serviços de que precisamos diariamente são feitos na cidade. 
O que gosto menos é a falta de cuidado com a limpeza das ruas, uma vez do meu ponto de vista os ecopontos não acompanham principalmente a restauração que vai abrindo, associado também a alguma falta de civismo por parte dos cidadãos. E sem serviço de recolha de lixo ao domingo, vejo a minha rua, por exemplo, uma das principais entradas da cidade, muito suja, como se de outra cidade menos cuidada se tratasse. Também não gosto da falta de controle de ruído e segurança durante a noite, principalmente durante o ano lectivo (ensino superior). Custa-me saber que nos edifícios devolutos da cidade, em plena luz do dia e bem perto de nós moram pessoas sem qualquer apoio ou controle, assim como por muitas das ruas da nossa cidade, existem pessoas ou famílias que se alimentam dos excedentes que as cadeias de supermercados deitam ao lixo todos os dias, à vista de todos. É um problema social e de saúde publica. Ou seja esta realidade é completamente contrária ao que a cidade de Leiria quer transparecer ou alcançar.

2 - Bom, nessa altura se tudo correr bem, eu terei 63 anos, a minha filha mais nova 23 e o meu filhos 28 e 30 respectivamente. O que eu imagino, é uma cidade, mais bem planeada urbanisticamente e comercialmente, provavelmente maior, com o centro histórico totalmente renovado, e com mais espaços verdes (jardins e floresta) e de uso comum do que propriamente construção, e que a construção a existir, seja inclusiva e de qualidade e que existam menos diferenças sociais. Imagino também uma maior consciência colectiva da importância do consumo local, que gera mais investimento, mais trabalho, mais serviços e mais qualidade. Desejo ainda que continue a ser uma cidade bonita que proporciona diariamente uma vida ágil e em segurança e que me orgulhe da cidade onde nasci e que escolhi para viver e trabalhar.