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Dóris Santos, directora do Museu Nacional do Traje: “As pessoas seguem as tendências, querem vestir-se como os seus heróis”

7 jan 2022 10:30

Natural do Bombarral, a nova directora quer colocar o Museu Nacional do Traje com referência nacional e internacional

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Dóris Santos sai do Museu Dr. Joaquim Manso, na Nazaré, para dirigir o Museu Nacional do Traje
DR

Que papel cabe aos museus numa sociedade que vibra, sobretudo, com o avanço tecnológico?
A transformação digital e a tecnologia são palavras que entraram definitivamente no mundo dos museus, quer a nível interno, porque permitiram novas ferramentas que agilizam o registo, a troca de informações e a salvaguarda das colecções, quer, sobretudo, ao nível externo, porque permitem outras formas de comunicação, muito mais próximas, muito mais céleres, muito mais criativas, não só entre os profissionais dos museus, mas com o público em geral, e, portanto, podemos captar um público muito mais diverso espacialmente, muito mais amplo. Quando comunicamos através da internet, o nosso espectro de público é mundial. Por outro lado, a tecnologia tem motivado reflexão e obras de arte que já só existem no domínio virtual, curadorias específicas, e os museus têm tido um papel bastante activo nesse processo. Ao nível das exposições, o avanço tecnológico mudou radicalmente a forma como os museus apresentam as suas colecções e como expõem.

Revê-se na ideia de que os museus devem ser espaços vivos e conectados com o exterior?
Hoje convida-se muito mais à participação, à interacção, ao estar no museu de uma forma significativa, que não seja meramente um passar pelas salas, mas que o visitante participe na descoberta do museu e do que o museu tem para propôr. Para mim, o museu é contemporaneidade, não é passado. Deve motivar a reflexão das pessoas sobre a sua própria realidade. Os museus hoje, é este o meu entendimento, não estão à espera do visitante, vão ao encontro, chamam, apelam, ultrapassam as suas paredes.

Nos últimos anos, o Museu Dr. Joaquim Manso, que coordenou, beneficiou do aumento de visibilidade da Nazaré proporcionado, por exemplo, pelo surf?
Sim. Toda a Nazaré beneficiou deste boom trazido pelo surf das ondas grandes. Nós estamos a assistir nesta última década a uma transformação da Nazaré em função de uma maior globalização. O turismo não é novo na Nazaré, a Nazaré lida com esta realidade desde finais do século XIX, foi desde sempre uma das praias mais procuradas. Em meados do século XX era paragem obrigatória para qualquer turista que vinha ao País. O que creio que é novo é a amplitude, é a diversidade da tipologia do turista. É um fenómeno em constante crescimento que pode trazer alguns perigos, como a massificação ou uma modernização que de alguma maneira possa desgarrar tradições que são imagem de marca da Nazaré. Mas o museu, assim como em geral a Nazaré, beneficiou deste aumento de visitantes e da diversidade das suas nacionalidades, dos seus interesses. E motivou-nos, inclusivamente, a uma reflexão sobre o que é que há-de ser um museu da Nazaré, poque não nos devemos ater apenas a um discurso passadista, a um discurso que fique no passado. Hoje, a relação da Nazaré com o mar faz-se também por outras vias, para além da pesca, através do turismo e sobretudo do surf. Todas estas novas realidades socioeconómicas devem ser espelhadas no Museu da Nazaré e na programação que o mesmo faz e no modo como se apresenta.

Acredita que as novas gerações de turistas vão manter a procura pelo conhecimento da tradição?
Vão continuar e eu sentia isso quando estava no Museu e na Nazaré. Por um lado, há quem tenha vindo nos anos 70, falando em público estrangeiro, que agora regressa à Nazaré e continua à procura daquela imagem. E é muitas vezes no museu que a encontra. Por outro lado, a Nazaré tem essa genuinidade que a diferencia das outras praias, ainda. Para além da modernidade que pode ter, deste surf das ondas grandes, continua a ter muito presente ao nível comunitário essas tradições. Não só porque ainda há uma dezena de senhoras que se vestem no seu dia a dia da forma tradicional, como por toda uma série de manifestações festivas, religiosas, de vivências de rua, que ainda estão muito presentes. O turista procura, no meu entender, cada vez mais a proximidade, a individualidade, aquilo que permanece como tradição. E a Nazaré tem muito para oferecer neste domínio. Portanto, penso que as novas gerações de turistas vão continuar a procurar a Nazaré não apenas pelas ondas grandes mas também pelas suas tradições e pelo modo de ser das pessoas, que é também património.

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