Economia

Época das vindimas antecipou-se um mês nos últimos 20 anos

25 jul 2024 18:00

A braços com um problema de stocks, após anos de grande produção, o sector vitivinícola prepara-se para uma safra de grande qualidade. O vinho português é louvado, mas sofre do mal do “made in Portugal”

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Vindima realizada em Outubro está a tornar-se obsoleta devido às alterações climáticas
Fotografia: Jacinto Silva Duro
Jacinto Silva Duro

No folclocre nacional, Outubro ainda é o mês das vindimas, contudo, nalgumas zonas do País, a data tem vindo a ser antecipada.

Pedro Ribeiro, enólogo e CEO da Herdade do Rocim, refere que, no seu caso, as vindimas já começaram nas vinhas desta chancela no Alentejo.

“No Vale da Mata, em Leiria, ainda não temos uma previsão, mas acreditamos que será a meio de Agosto”, afirma, adiantando que a colheita está a acontecer cada vez mais cedo devido às alterações climáticas.

“A data das vindimas adiantou-se um mês ou mais, nos últimos 20 anos.”

Este ano, entre os produtores, já se sabe que haverá menos uvas, uma vez que o míldio atacou as cepas, na generalidade do território nacional.

“Em termos de qualidade, tudo aponta para um ano excepcional, porque tivemos condições muito temperadas nestes últimos meses, o que permitiu um desenvolvimento final da uva muito equilibrado, apesar do calor que estamos agora a sentir”, explica Pedro Ribeiro.

Carlos Pereira da Fonseca, responsável pela Companhia Agrícola do Sanguinhal, do Bombarral, também é da opinião de que a produção conhecerá um abrandamento este ano, após os valores recorde do ano passado.

O calor deverá promover uma maturação muito rápida das uvas e, na zona Oeste, tal como no caso das vinhas do Vale da Mata da Herdade do Rocim, a colheita deverá começar em Agosto.

“Os vinhos que precisam de mais acidez vão começar a vindima no mês que vem. As datas têm vindo a adiantar-se também pelo clima e pelos novos tipos de vinho produzidos, pois há mais produtores a apostar em espumante e em vinhos com menos integração alcoólica”, explica o empresário.

O mesmo entende Pedro Rosado, general manager do Paço das Côrtes.

“A vindima tradicionalmente realizada em Outubro está a tornar-se obsoleta devido às alterações climáticas, que anteciparão cada vez mais o seu início. Agosto para vinhos brancos e Setembro para vinhos tintos”, resume.

Portugal conta com cerca de 200 milhões de litros de vinho acumulados, explica este empresário.

Tal valor exige uma “destilação de crise”.

“Consiste em compensar os produtores para a retirada e transformação do excesso de álcool para a indústria e energia. Bruxelas aprovou 15 milhões de euros para enfrentar este excesso, mas essa medida é tardia e insuficiente, sendo a quarta vez em cinco anos que se recorre a essa solução”, diz.

Já para Pedro Ribeiro, o facto de a safra deste ano ser menor, poderá ajudar a resolver a situação.

“Não temos esse problema, mas, de facto, os mercados estão muito pressionados e há muito vinho. Esperamos que esta situação de menor produção se reflicta numa diminuição do armazenamento.”

Carlos Pereira da Fonseca culpa a intervenção “tardia e muito mal conduzida” que se tentou no ano passado.

“Poder-se-ia ter tentado destilar mais. Além disso, não se fixou um preço igual para o país inteiro e nunca concordei que, para os 30% que se podem destilar, se pudesse contar vinho generoso na região do Douro, esquecendo que esse vinho tem, pelo menos, 20% de álcool.”

E a exportação seria uma solução? O responsável pela Companhia Agrícola do Sanguinhal é peremptório: “não há capacidade para exportar mais!”

Embora Portugal esteja a exportar mais, a aposta é exportar melhor, afirma.

“Não é baixando os preços que se consegue ter rentabilidade. No entanto, mesmo com preços baixos, não há, neste momento, capacidade de exportação que consiga escoar os stocks que existem em Portugal”, acredita.

Para Pedro Rosado, a solução está em mais investimento na marca Portugal e dos Vinhos Portugueses no Mundo e no aumento das exportações”, enfrentando-se assim a dura realidade dos viticultores que lidam “com altos custos e incertezas sobre a destino das suas uvas”.

Consumo abranda

Exportações de vinho diminuem

A produção de vinho em Portugal atingiu os 7,4 milhões de hectolitros em 2023, o que corresponde ao resultado mais alto desde 2001, divulgou o INE.

Já a produção vinícola registou um decréscimo de 6,9% face à campanha anterior e o consumo decresceu 9,2%, “particularmente no que respeita aos vinhos sem certificação”.

Para piorar, na campanha 2022/2023 verificou-se uma diminuição das exportações de 25,9%.

Opinião

A instabilidade geopolítica atual pode ter um impacto significativo no valor das exportações e, consequentemente, nos números do PIB de 2024. Alguns pontos chave sobre como essa instabilidade pode influenciar a economia global:

Interrupção de Cadeias de Suprimentos: Conflitos e tensões geopolíticas podem levar à interrupção das cadeias de suprimentos globais. Isto pode afetar a disponibilidade de componentes e matérias-primas essenciais, retardando a produção e aumentando os custos para as empresas exportadoras.

Variações nos Preços de Energia e Commodities: A instabilidade em regiões produtoras de petróleo e gás, por exemplo, pode levar a flutuações significativas nos preços da energia. Como muitos países dependem dessas importações, o aumento dos custos pode reduzir a competitividade das exportações.

Sanções e Barreiras Comerciais: Tensões geopolíticas frequentemente resultam em sanções económicas e novas barreiras comerciais. Isto pode limitar o acesso a mercados-chave para exportadores e reduzir o volume de comércio internacional.

Desvalorização ou Valorização das Moedas: A incerteza geopolítica pode levar a flutuações nas taxas de câmbio. Uma moeda desvalorizada pode tornar as exportações de um país mais competitivas, enquanto uma moeda valorizada pode ter o efeito oposto.

Confiança dos Consumidores e Investidores: A instabilidade pode afetar negativamente a confiança dos consumidores e investidores, levando a uma redução no consumo e no investimento. Isto pode ter um efeito cascata na demanda por exportações.

Acordos Comerciais: Mudanças nas relações diplomáticas podem resultar em novos acordos comerciais ou na revisão dos existentes. Estes acordos podem criar oportunidades ou barreiras para exportadores.

Impacto Regional Variado: A influência da instabilidade geopolítica pode variar dependendo da região. Países diretamente envolvidos em conflitos podem enfrentar maiores desafios, enquanto outros podem se beneficiar de oportunidades emergentes em mercados alternativos.

Para 2024, se as tensões geopolíticas actuais persistirem ou se agravarem, é provável que vejamos um impacto negativo no valor das exportações e, consequentemente, no PIB global. No entanto, a magnitude desse impacto dependerá da evolução específica das crises e das respostas políticas e económicas adotadas pelos países afetados.

Relativamente à exportação no sector de vinhos a instabilidade geopolítica pode ter impactos específicos no setor de exportação de vinhos, que dependem de vários fatores relacionados tanto à produção quanto ao comércio internacional. Aqui estão algumas formas pelas quais o sector de vinhos pode ser afectado:

Interrupção das Cadeias de Suprimentos: A produção de vinhos depende de insumos específicos [combinação de factores de produção, directos (matérias-primas) e indirectos (mão-de-obra, energia, tributos)], como garrafas, rolhas e rótulos. Interrupções nas cadeias de suprimentos podem atrasar a produção e aumentar os custos.

Tarifas e Barreiras Comerciais: Tensões geopolíticas podem levar à imposição de novas tarifas ou barreiras comerciais em mercados-chave. Por exemplo, sanções ou disputas comerciais podem dificultar o acesso a mercados importantes como os Estados Unidos, China e o Reino Unido.

Flutuações Cambiais: As taxas de câmbio podem ser voláteis em períodos de instabilidade. Um euro desvalorizado, por exemplo, pode tornar os vinhos europeus mais baratos e competitivos em mercados internacionais. Por outro lado, a valorização da moeda pode prejudicar as exportações.

Demanda do Consumidor: A instabilidade económica pode afetar o poder de compra dos consumidores nos mercados de exportação. Se os consumidores em mercados-chave enfrentarem dificuldades económicas, a procura por vinhos importados, que são muitas vezes considerados itens de luxo, pode diminuir.

Logística e Transporte: Conflitos e tensões geopolíticas podem afetar as rotas de transporte e logística, resultando em atrasos e custos adicionais. Portos e rotas de navegação podem ser fechados ou enfrentar restrições, afetando a entrega de produtos aos mercados internacionais.

Mudanças Climáticas e Questões Ambientais: A geopolítica também pode influenciar políticas ambientais que afetam a produção de vinho. Mudanças nas regulamentações ambientais e agrícolas podem impactar a produção, qualidade e quantidade de vinhos exportáveis.

Preferências e Tendências de Mercado: Em tempos de instabilidade, os consumidores podem mudar as suas preferências de consumo, optando por produtos locais em vez de importados. Isso pode afetar a procura por vinhos estrangeiros em mercados específicos.

Ou seja, a instabilidade geopolítica atual pode ter várias implicações para as exportações no sector de vinhos, impactando desde os custos de produção até á procura do consumidor nos mercados internacionais.

RESUMO

Apesar de toda a conjuntura mundial e em contraciclo, as exportações de vinhos portugueses aumentaram no primeiro quadrimestre.

Contudo, temos que ter consciência de que vivemos momentos de incertezas causadas pelas guerras existentes e que esta instabilidade pode vir a afectar as exportações de vinho de várias maneiras, incluindo interrupções nas cadeias de suprimentos, encargos e barreiras comerciais, flutuações cambiais e mudanças na procura do consumidor.

Esses desafios exigem dos produtores estratégias de diversificação de mercados, investimento em marketing e a colaboração com associações comerciais.

A adaptação a essas condições voláteis são essenciais para mitigar os impactos negativos nas exportações de vinho, caso venham a ser sentidos futuramente. 

Pedro Rosado, general manager do Paço das Côrtes