Sociedade
Escolas de norte a sul do distrito encerraram e milhares de professores concentraram-se em Leiria
Fenprof aponta a presença de cerca de cinco mil pessoas na manifestação em Leiria
Milhares de professores, assistentes operacionais, técnicos superiores e alunos de diferentes escolas do distrito de Leiria concentraram-se hoje junto ao Jardim Luís de Camões, em Leiria, em mais uma acção de protesto contra as políticas do Governo.
A manifestação foi marcada pela Federação Nacional dos Professores (Fenprof), mas contou com a participação dos vários sindicatos que representam os profissionais da educação.
“Estamos juntos por uma escola mais digna e a lutar por todos os profissionais da educação. Somos contra as quotas, contra a progressão da carreira por este sistema de avaliação e estamos a defender a escola pública, principalmente”, afirmou Catarina Marques da Cruz, do Agrupamento de Escolas de Marrazes, de Leiria.
A docente lamentou os serviços mínimos durante as greves decretados pelo Colégio Arbitral.
“Estamos contra os serviços mínimos. A escola não é um depósito. A escola é para educar com motivação e amor pela escola. Não somos um depósito nem um restaurante”, reforçou ao JORNAL DE LEIRIA.
Urgente agir
"Dignificar" a profissão defendeu Sandra Silva, que esteve na manifestação também a exigir melhores condições físicas para a Escola Secundária Afonso Lopes Vieira, onde lecciona.
“Somos pessoas muito importantes na nossa sociedade. É necessário ouvirem-nos e mudarem coisas que só os professores conhecem na escola. A minha t-shirt diz: necessitamos de obras na escola, temos muito más condições e é urgente agir. Os nossos governantes têm de nos ouvir”, sublinhou, ao considerar os serviços mínimos “um atentado à democracia”.
Um grupo de jovens do 11.º ano da Escola Secundária Rodrigues Lobo também se mostrou solidário com os docentes.
“Esta é também uma luta dos jovens pelo nosso ensino. Esta situação causa descontentamento nos professores e com toda a razão e acaba por, sem querer, transbordar para os alunos. Os professores estão cansados nas aulas, estão infelizes com a profissão e pelo salário que têm, ninguém trabalha feliz. Estamos aqui a lutar por um ensino melhor”, afirmaram.
Estas alunas irão realizar exames que darão acesso ao ensino superior. Apesar de admitirem que podem estar a ser prejudicadas com as greves, as jovens defendem a luta dos docentes.
“Se ao fazerem isto têm o resultado que têm, que é quase nada, se não o fizerem vai continuar tudo na mesmo. A greve tem de ter um impacto. Neste momento, a prioridade é mudar esta situação”, referiram.
Técnica superior especializada em Língua Gestual Portuguesa, Manuela Campaniço, está contra as condições que o seu grupo tem "dentro da escola e fora da escola".
"Tenho quase 19 anos de serviço e estou a ganhar menos do que ganhava no início da minha carreira. Exigimos condições e progressão. Exigimos que as quotas não sejam como são. Também somos avaliados e temos quotas e as vagas não chegam para todos", destacou a técnica do Agrupamento de Escolas D. Dinis, em Leiria.
Adesão de 95%
Mário Nogueira, secretário-geral da Fenprof, revelou que a manifestação em Leiria reuniu cerca de cinco mil pessoas, e a greve que está decorrer por distritos teve uma adesão de “mais de 95%” e “varreu praticamente todo o distrito de Leiria”.
“Não é uma surpresa. Os professores não aceitam continuar a ser maltratados, desvalorizados, desrespeitados e desconsiderados”, frisou.
Sobre os serviços mínimos decretados pelo Colégio Arbitral, Mário Nogueira apelou para que os docentes alertem, caso sejam impedidos de fazer greve.
“Até ao dia 8, a greve por distrito, que termina no Porto, não tem serviços mínimos decretados e se algum professor que quiser fazer greve ao abrigo deste pré-aviso, não puder ou não o permitirem, isso constitui uma grave violação da lei e iremos agir em conformidade”, avisou.
Não obstante, o secretário-geral da Fenprof, considera que “estes serviços mínimos são um abuso, uma vergonha e um atentado à liberdade de exercício do direito à greve”.
Linhas vermelhas
O dirigente sindical enumerou várias ‘linhas vermelhas’, que considera serem inultrapassáveis para os professores.
“Haver vinculação de professores em que os mais graduados, com 15 e 20 anos de serviço, ficam de fora e outros colegas, com quatro ou cinco anos, possam vincular. Estes devem vincular, mas os outros também. Professores efectivos dos quadros das escolas que passem a ser professores de QZP [Quadro de Zona Pedagógica], podendo os directores decidir a sua colocação em outras escolas. Continuar a não querer contar o tempo de serviço dos professores”, destacou.
Mário Nogueira apontou ainda reivindicações que estão “num vermelho tão escuro que ninguém poderá por o pé”, como “continuar a impedir a progressão com vagas e a aplicar quotas na avaliação, mobilidade por doença, técnicos especializados”.