Sociedade
Estudantes do Politécnico abordam sexo e valores com alunos do secundário
O projecto Adolescer com sentido foi desenvolvido pelas estudantes do 4.º ano de enfermagem da Escola Superior de Saúde
As doenças sexualmente transmissíveis registaram um aumento entre os jovens, segundo os últimos relatórios epidemiológicos anuais do Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças.
O projecto Adolescer com sentido foi desenvolvido pelas estudantes do 4.º ano de enfermagem da Escola Superior de Saúde (ESSLei) do Politécnico de Leiria, em parceria com o serviço de pediatria do hospital de Leiria e com a autarquia, junto de alunos do 10.º ano da Escola Secundária Francisco Rodrigues Lobo, em Leiria.
Ao longo de três sessões, os alunos foram desafiados a reflectir sobre a importância dos valores e dos afectos, assim como sobre os seus actos e consequências.
Teresa Kraus, docente na ESSLei e investigadora no ciTechCare, admite que o projecto desenvolvido “entre pares” é uma mais-valia para que a mensagem chegue a um público, cuja idade se situa entre os 16 e os 18 anos, sem censura e mais à vontade.
O JORNAL DE LEIRIA acompanhou a última sessão, na sexta-feira, onde os alunos experimentaram uma situação que simulou o risco de transmissão de doenças. As jovens universitárias distribuíram copos por oito alunos. O líquido transparente ocultava a substância, que foi partilhada por todos os copos.
O teste final revelou que alguns estavam ‘contaminados’, pelo que transmitiram a ‘doença’ entre o grupo. “Como podem ver quem vê caras não vê doenças sexualmente transmissíveis”, constataram.
Para Margarida Antunes, 16 anos, o facto de serem estudantes quase da mesma idade ajuda a que a mensagem passe melhor. “Quando são pessoas mais velhas não viveram as mesmas coisas que nós e não nos percebem tão bem”, constata.
Rita Bota, 16 anos, concorda e destaca a “maior proximidade” com pessoas que “ainda há pouco tempo viveram o mesmo que nós”.
Apesar de muitas informações serem do seu conhecimento, as alunas reconhecem que as sessões permitiram clarificar determinados assuntos. “Ao contrário do que algumas pessoas dizem, que falar sobre este tipo de assuntos na escola pode incentivar” a ter relações sexuais, “é exactamente o contrário”, garantem, ao reforçar que até é uma forma de fazer reflectir antes de qualquer decisão.
Sofia Bento e Bárbara Marques, de 23 e 22 anos, confessam que no início os jovens estavam mais inibidos, mas foram-se soltando. “Tentámos abordar não só as doenças sexualmente transmissíveis, mas também a gravidez indesejada, os valores, a responsabilidade e a liberdade.”
Teresa Kraus destaca a importância de abordar temas relacionados com os valores ou o eu. “Sou digno, mas o outro também. Falamos dos afectos, de sentimentos e da violência no namoro. Este projecto ajuda a pensar antes de agir e a adquirir conceitos para saber prevenir situações indesejáveis”, reforça.
A docente e investigadora lembra que a clamídia, gonorreia e a sífilis têm aumentado, sobretudo na faixa etária dos jovens e adolescentes e por isso é preciso habilitar os adolescentes para que saibam ser responsáveis. A minha liberdade tem o tamanho da minha responsabilidade. Não posso ser livre, sem limites”.
Fátima Carvalho, coordenadora da saúde da ESFRL, confessa que foi o facto do projeto ser desenvolvido entre pares que a fez aderir à proposta. “Eles olham para os professores como uma pessoa moralista, que não vai falar sobre tudo. Este projecto tem essa mais-valia, porque são alunas que saíram do secundário há pouco tempo e eles vêem-nas quase como iguais”.