Sociedade

Faleceu a Ti Augusta, a alma do restaurante Ti Augusta, nos Pousos

25 set 2021 10:33

Maria Augusta Marques faleceu esta madrugada, aos 97 anos. Foi, durante mais de meio século, a alma e o rosto do restaurante Ti Augusta, nos Pousos.

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Natural da Chaínça, Maria Augusta começou por trabalhar na recolha de resina. Foi depois de casada que abriu o negócio
Ricardo Graça/Arquivo

Era na cozinha que se sentia como peixe na água. Durante mais de meio século foi a alma e o rosto do restaurante que lhe herdou o nome, localizado nos Pousos, em Leiria. Maria Augusta Marques, a Ti Augusta, faleceu esta madrugada, aos 97 anos, no Hospital de Santo André.

Em 2016, numa conversa com a jornalista Daniela Sousa Franco, recordou ao JORNAL DE LEIRIA o seu percurso, para a rubrica História de Vida, que agora reproduzimos.

Maria Augusta nasceu na Chainça, em Santa Catarina da Serra, e desde muito cedo soube o que é fazer pela vida. Irmã mais velha de um grupo de oito crianças, filha de uma agricultora e de um carpinteiro, Maria Augusta não estudou além da quarta classe para depressa poder ajudar no sustento do agregado.

“Eu fiz a quarta classe e aprendi muito. A minha professora até dizia que era uma pena não estudar mais. Ainda me recordo de quando os crucifixos começaram a aparecer na escola. Foi há 81 anos e eu andava na quarta classe”, contava, então, Maria Augusta.

Enquanto a sua mãe se ocupava da vida no campo e o pai se dedicava à carpintaria - “foi o primeiro homem que foi trabalhar no Santuário de Fátima” - Maria Augusta deixava os livros para recolher resina pelos pinhais das redondezas. Foi essa a sua actividade até casar.

Nessa entrevista, Maria Augusta referia que o marido foi sempre um homem doente, pelo que, desde início teve de se esforçar para manter o orçamento familiar.

Inicialmente a jovem voltou para o lar dos pais, mas depois recebeu o convite de um tio, que a desafiou a ir viver para sua casa, em Lisboa, onde iria ajudar a tia a cuidar do filho bebé.

Foi com essa tia que Maria Augusta aprendeu a cozinhar. A sua familiar tinha sido cozinheira da Condessa de Palmela e transmitiu-lhe as suas dicas.

O marido morreu aos 47 anos. Antes disso, arrancaram os dois com o negócio. Na entrevista que concedeu ao JORNAL DE LEIRIA em 2016, Maria Augusta recordou como tudo começou.

Contou que, ao ver o casal aflito, com uma parca reforma de 317 escudos, um vizinho trouxe-lhes um burro, uma carroça e um pipo de vinho. A ideia era terem o indispensável para começar a vender vinho nas feiras. O casal assim fez.

Além das feiras, começaram a vender vinho a copo no edifício onde funciona actualmente o restaurante Ti Augusta. A polícia passava para fiscalizar e muitas vezes fechava os olhos por pena do casal e das crianças, recordava Maria Augusta.

A partir do dia em que decidiram abrir o espaço com petiscos a sua sorte mudou. Com o que tirava do restaurante, e apesar de ter ficado viúva tão cedo, conseguiu casar os filhos, fazer-lhes a boda e viajar: “fui à Terra Santa, à Itália, a Marrocos, a Nossa Senhora de Lourdes, a Santiago de Compostela, a todo o lado”.

No início, a casa de repasto não havia uma ementa extensa como se usa agora. Servia-se a terrina da sopa de feijão com hortaliça e a travessa com carne e enchidos. E havia massinha de bacalhau, salientava a cozinheira.

Mais tarde passou a servir também feijoada, rancho e os grelhados. O estabelecimento recebia muitos trabalhadores das redondezas e também gente da cidade, da câmara municipal.

Em 2016, então com 92 anos, Maria Augusta continuava a ajudar na cozinha.