Sociedade

Faleceu o senhor 'Augusto dos Jornais'

5 fev 2019 00:00

Gostei muito de ser ardina. Nunca quis ser outra coisa”, afirmou, em 2014, ao JORNAL DE LEIRIA.

Augusto Bernardino Gaspar, conhecido em Leiria Leiria como o senhor Augusto dos Jornais, faleceu, esta terça-feira, aos 87 anos.

Estreou-se como ardina aos nove anos, assim que concluiu a instrução primária e nunca mais deixou os jornais. Durante cerca de 40 anos, não arredou pé da Rua Correia Mateus, onde vendia jornais, numa banca improvisada montada numa das janelas do antigo Banco Nacional Ultramarino (BNU). E, mesmo depois da abertura dos quiosques da família, primeiro num vão de escadas no prédio em frente e depois junto à Rotunda do Sinaleiro, continuou fiel à venda de rua.

Em 2014, em entrevista ao JORNAL DE LEIRIA para a rubrica História de Vida, Augusto Gaspar recordava os seus tempos de ardina, em os jornais “se vendiam bem” e, não raras vezes, esgotavam. “O Diário de Notícias era o que saía mais, por causa dos anúncios. As senhoras gostavam muito da Crónica Feminina, da Modas e Bordados e da Flama”, contava o senhor Augusto.

Nessa entrevista confessava também que, entre os jornais autorizados, escondia sempre alguns exemplares de publicações proibidas. “Quando vinha, a PIDE começava no Carvalho, que estava junto à Rodoviária. Ele mandava um garoto avisar-nos, para fazermos desaparecer as revistas.”

O primeiro quiosque da família funcionou em frente à banca de Augusto, onde está hoje o BPI, Nos anos 80, o negócio alargou, com a exploração das tabacarias dos Hotéis Eurosol e D. João III. Depois, foi o percurso inverso, com o fecho dos quiosques. Dos quatro, hoje apenas se mantém aberto o espaço do antigo Quiosque de Leiria, que funciona agora como café, explorado pelas filhas Celeste e Paula.

Era aí que Augusto Gaspar era nos últimos anos Augusto Gaspar matava o “vício dos jornais”, a ler as notícias do País e do mundo. “Gostei muito de ser ardina. Nunca quis ser outra coisa”, afirmava, em 2014, ao JORNAL DE LEIRIA.