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Filme que realizador de Leiria levou à Berlinale estreia nas salas de cinema
Cinema City acolhe sessão especial com a presença de Raul Domingues e dos participantes da longa-metragem, já premiada em Espanha
“Conta-se que, em tempos, vieram dois malfeitores cumprir a pena de tomar conta desta terra desabitada e em pousio”, lê-se na sinopse do filme Terra Que Marca, de Raul Domingues. “A sua sentença passou de geração em geração e foi herdada pelos homens que a trabalham. Uma mulher descalça ajeita a terra e é surpreendida por uma folha”.
O realizador, que é natural de Leiria, filmou a avó materna, Maria Alice, e outros protagonistas do trabalho agrícola nos campos do Casal da Quinta, aldeia da freguesia de Milagres.
A estreia mundial de Terra Que Marca aconteceu na secção Forum da Berlinale 2022, na Alemanha.
Na próxima quinta-feira, 30 de Março, estreia nas salas de cinema portuguesas – e no sábado, 1 de Abril, o Cinema City de Leiria acolhe uma sessão especial com a presença do realizador e dos participantes na longa-metragem (às 19:30 horas, seguida de conversa entre Raul Domingues e o realizador Bruno Carnide).
Durante aproximadamente uma hora, contemplam-se os gestos de quem trabalha a terra, testemunha-se o cuidar da terra, o semear, o regar, o cavar, com familiares e vizinhos do autor, que observa a transformação no contexto que conhece desde a infância e a que regressou com uma câmara e outro olhar.
Em entrevista ao JORNAL DE LEIRIA, em Fevereiro do ano passado, antes da ida à Berlinale, Raul Domingues explicou que quis expor “esta relação que podemos ter com a Natureza”, que “traz alguma paz de espírito”.
Terra Que Marca, segundo uma nota distribuída pela produtora Oublaum, foi exibido em vários festivais internacionais, como o Play-Doc em Espanha, onde recebeu o prémio de melhor longa-metragem, a Viennale na Áustria, o Festival Black Canvas no México, o IDFA nos Países Baixos, entre outros, e a estreia portuguesa aconteceu na última edição do DocLisboa.
A atenção da câmara foca-se no que rodeia o realizador: “Algumas coisas que me interessavam no gesto, no movimento das ferramentas, na acção do trabalho, percebendo os processos que aqueles que resistem fazem por aqui. Também tirava dias para filmar na floresta, em zonas da minha aldeia onde raramente alguém vai, ocupadas por pinheiros, por eucaliptos para produção, por algumas, poucas, árvores autóctones, como o carvalho ou o sobreiro, por vegetação e por outros seres que andam por ali livres”.
Terra Que Marca é uma produção da Oublaum, da Etnograf e de Raúl Domingues, em associação com a Terratreme, com imagem, som e montagem de Raúl Domingues e a participação de Maria Alice Sousa, Manuel Jesus Duro, Joaquim Sousa, Manuel Carpalhoso, José Silva, António Sousa, Luís Mil Homens, Manuel Carlos, Luís Carpalhoso, Edmundo Lisboa, Maria Alice Domingues, Maria Sousa, Isaura Domingues, Adelino Sousa, Abílio Domingues, Fernando Carpalhoso, Daniela Sousa, Bianca, Bruna, Eva e Leonor.
Iniciada em 2015 e concluída em 2021, é a segunda longa-metragem de Raul Domingues, um antigo aluno da Escola Superior de Artes e Design de Caldas da Rainha (ESAD.CR) do Politécnico de Leiria.