Viver
Francisco Pedro, jornalista e artista plástico: “conhecer outros povos complica-nos a cabeça”
"É preciso acautelar o futuro das associações, para que não se fechem sobre si mesmas e assegurar que, quando os núcleos duros desmoronam, haja continuidade."
O jornalismo foi a sua porta para conhecer povos indígenas na América do Sul e para a sua participação na exposição Filhos de Gea, que está patente na Biblioteca José Saramago, em Leiria?
Partilho essa exposição com o escultor Abílio Febra, e com o pintor Álvaro Almaguer. Sempre gostei de viajar. Conhecer outros povos complica-nos a cabeça e dános uma experiência fantástica. O primeiro contacto que tive com os índios brasileiros Yanomamis foi através de um artigo sobre uma exposição, no Museu da Consolata, de Fátima, que escrevi para o JORNAL DE LEIRIA e onde conheci o missionário de Leiria, Paulino Ferreira, que me falou desse povo. Fiquei fascinado e decidi que tinha de lá ir, o que aconteceu em 1999. Depois disso, conheci mais duas tribos, os Warao, na Venezuela, e os naza, na Colômbia. Na minha exposição, usei folhas vegetais para imprimir, através de fotossíntese, imagens das três tribos.
Usar impressão fotográfica, numa delicada folha, que acabará por se desfazer, revela uma metáfora para a situação destes povos?
O tema da exposição aborda a Terra como mãe, que é preciso preservar. Para a parte técnica tive ajuda de outro artista, o Tony Palmeira, que me sugeriu a fotossíntese. É uma obra efémera que, espero, dure até ao final da exposição. Também imprimi numa lona uma imagem de uma anciã colombiana, com um olhar determinado e de luta, pela posse da Terra, da mãe que dá sustento, com a qual dialoga e que é preciso preservar. Já as folhas vão partir-se e as imagens irão desaparecer, num regresso à terra. Espero chamar a atenção para a ligação dos incêndios e seca com a alteração do clima. Uma alteração que provocámos. As pessoas falam disso, mas não estão conscientes da gravidade. Os Yanomamis, que estão ameaçados de morte por madeireiros e garimpeiros, não produzem um grama de lixo, por exemplo. Vivem completamente em equilíbrio.
O que recorda do seu primeiro contacto com eles?
Foi um momento fantástico. Passei oito horas, aos saltos na selva, na carroçaria de um jipe, desde uma missão até às suas malocas. Parámos porque nos ouviram muito antes e vieram até à estrada. De repente, começámos a ver os índios e as mulheres, com os bebés ao colo. Eles têm um comportamento completamente diferente, como se fossem um animal da floresta. Não nos tocam, rodeiam-nos e quase nos farejam. É um comportamento felino.
Tendo nascido nos Pousos, a quem é que o seu coração pertenceu? Ao GRAP ou à filarmónica da SAMP?
A ambos. Joguei andebol no GRAP, até aos juvenis, e acabei a "carreira" na União de Leiria. Também toquei clarinete e requinta na filarmónica, com o maestro Joaquim Lopes, e cheguei a ser o músico mais novo do grupo, quando tinha 11 anos. Fiquei lá até aos 14. Tinha quase todos os fins-desemana ocupados a tocar em festas de paróquia. Recordo- me que, na festa da Foz do Arelho, que durava três dias, dormimos em casas abandonadas, onde puseram uns colchões no chão. Num desses dias, vieram umas miúdas pedir-me autógrafos. Foi a primeira vez que aconteceu. Ainda estive nuns grupos musicais e cheguei a fazer teatro amador.
E a escrita?
Na verdade, em jovem, lia mais do que escrevia. Quando fiz o meu primeiro Interrail, escrevi uma espécie de diário que, anos mais tarde, voltei a encontrar e ler e fartei- me de rir da forma como escrevia... Comecei a colaborar com o Diário de Leiria, quando ainda trabalhava nos Serviços Municipalizados de Leiria. Fazia crónicas desportivas e comecei a achar piada àquele mundo. Pelo meio, fui estudar Pintura e Desenho, na Sociedade Nacional de Belas Artes, em Lisboa. Foi um "bichinho" que apareceu em adulto, porque, quando era miúdo, sonhava ser músico. Adorava o rock sinfónico dos Marillion ou Pink Floyd, o Zappa, os Led Zepellin, entre outros. Mas, a determinado momento, percebi que gostava de pintar e comecei a fazê-l
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