Viver
Fundo Fabião tem 200 mil imagens. E apenas 5 mil estão tratadas
O museu m|i|mo está a retomar a conservação preventiva e curativa do arquivo de José Fabião, onde se encontra a história da cidade e de quem a habitou ao longo de quase 70 anos
A coordenadora do m|i|mo está entre as várias gerações que se sentaram perante a objectiva de José Fabião para o clássico retrato de estúdio. Agora que é quase impossível imaginar um mundo sem fotografias, o arquivo do fotógrafo, acumulado no tempo em que a fotografia era momento raro e às vezes solene, parece ainda mais valioso. Sofia Carreira tem o sonho de o tornar acessível ao público, e aberto a pesquisas, em suporte digital. Além dos registos individuais ou em família de milhares de pessoas com ligação ao concelho, inclui imagens da vida social e política de Leiria, com os momentos mais importantes ao longo de décadas, essencialmente no período entre 1939 e 2005.
Os casamentos e baptizados, os momentos entre pais e filhos e os registos para documentos – as chamadas fotografias tipo passe – representam a ligação “mais emocional, mais concreta” ao legado de José Fabião, um diálogo íntimo que pode “potenciar a relação dos leirienses com o Museu”, acredita Sofia Carreira, porque “quase toda a gente foi fotografada naquele ambiente”, primeiro no Bairro dos Anjos e, desde 1976, na Praça Rodrigues Lobo.
O espólio, no entanto, é muito mais amplo. Contempla imagens para catálogos de empresas e reportagens para jornais, enquanto correspondente fotográfico do Record, do Diário de Notícias, d'O Século e d'O Primeiro de Janeiro, montras do comércio tradicional, acidentes (a pedido das companhias seguradoras) e outros instantâneos do quotidiano. “Para a cidade é mais interessante esta vida social e política”, conclui a responsável pelo m|i|mo – Museu da Imagem em Movimento, que ambiciona colocar online e aberto ao público o arquivo de José Fabião, que permite viajar no sentido contrário ao dos ponteiros do relógio como quem entra numa câmara escura para espreitar os dias através de uma janela para o passado. Lá no canto da memória se encontram, por exemplo, a passagem de Humberto Delgado por Leiria em campanha presidencial, as visitas de presidentes da República Portuguesa a Leiria, e mesmo personalidades estrangeiras, como Haile Selassie, antigo regente da Etiópia, e o Papa Paulo VI.
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