Economia
Gerir à distância, mais rápido e mantendo o rigor
Alta tecnologia, mercado exigente e global fazem hoje parte, sem margem para dúvidas, da gestão das empresas. Os mais experientes partilham o que mudou nos seus negócios do passado à actualidade
Muitas mudanças ocorreram na gestão das empresas nas últimas décadas, garantem os empresários mais experientes. Os tempos aceleraram, tudo se quer feito no momento, e os negócios fecham-se à distância, de forma mais impessoal. Por outro lado, mudaram os materiais, a tecnologia, ampliaram-se os mercados e as exigências dos consumidores.
Hoje, a sustentabilidade do negócio não passa apenas pela rentabilidade económica, tendo de abarcar a responsabilidade ambiental e social.
Fabricante de moldes, a Planimolde foi constituída na Marinha Grande, em 1978, e tem vindo a mudar ao longo do tempo e ao sabor das alterações do mercado. Telmo Ferraz é responsável pela empresa, que emprega 58 colaboradores e exporta praticamente tudo o que produz, sobretudo para os mercados europeus. Explica que “gerir hoje uma empresa é muito diferente do que há algumas décadas”. “Antigamente, geria-se pela sensibilidade que se tinha sobre o sector, sobre o conhecimento directo que se tinha sobre os clientes e atendendo à forma como podíamos ser vistos e compreendidos pelos clientes”, recorda o empresário.
Hoje, constata Telmo Ferraz, “tudo é muito impessoal, tudo se faz remotamente, mas com um rigor absoluto”. “O passo é mais apressado e olha-se para o telemóvel para saber o que se passa no mundo, muitas vezes acreditando em mentiras, que influenciam a economia”, prossegue o responsável. “Nota-se, quando se inicia uma relação com um cliente, que temos de lhe dar respostas a outras preocupações, a sustentabilidade ambiental é uma delas. Mas julgo que só no início. O preço e o prazo são o mais importante. Infelizmente é assim”, observa Telmo Ferraz.
A estratégia da empresa também teve de mudar e nos últimos anos a Planimolde, como outras fabricantes da região, teve de reduzir a sua dependência do ramo automóvel. “Antes, 80% do que produzíamos era para a indústria automóvel. No ano passado, passou a pesar cerca de 40% e este ano creio que ainda será menos”, adianta o empresário. É imperativo estar atento às mudanças no mercado. “Se cada vez há mais pessoas e se conhecem mais doenças, apostamos cada vez mais na área médica.” Telmo Ferraz fala de gestão, rematando em jeito de alerta: “A tecnologia é muito importante e nós temos uma célula que trabalha sozinha, bastando só programar. Mas nem tudo é inteligência artificial e nem tudo é China”.
Pedro Faria, responsável pela empresa Sival, fundada em 1944, pertence à terceira geração de gestores, havendo já uma quarta a assumir funções nesta fabricante de gessos localizada em Leiria. A Sival conta hoje com aproximadamente 140 colaboradores, trabalha sobretudo com o mercado interno (80%), exportando (20%) sobretudo para Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (África) e para a Europa. E, no ano passado, o grupo alcançou um volume de negócios de cerca de 25 milhões de euros.
Ao longo do tempo, a gestão da empresa teve forçosamente de se adaptar às mudanças económicas e sociais. O empresário recorda que o negócio nasceu por iniciativa de três engenheiros da Fábrica de Cimentos da Maceira- Liz. Pouco depois, os fundadores convidavam Emídio de Oliveira Faria para integrar a sociedade. “O meu avô tinha experiência em moagem, experiência neste tipo de fabrico”, lembra o neto, Pedro Faria. Cerca de dois ou três anos após a fundação, quando a Sival viveu algumas dificuldades, os três engenheiros retiraram-se, ficando apenas Emídio de Oliveira Faria a liderar a empresa. Antes da Revolução de 1974 não se exportava e não havia concorrência estrangeira. “O nosso negócio corria bem, nos anos 60 e no início dos anos 70.
Foram anos de grande evolução da construção. Foram anos de ouro para a economia nacional, que era um País pobre e onde tudo tinha que ser feito”, expõe o gestor da Sival. Após o 25 de Abril, seguem-se anos turbulentos que afectaram a construção. Já mais tarde, passou a dominar o receio da entrada na CCE. Dada a forte concorrência externa, sobretudo dos espanhóis, que eram agressivos neste sector, a Sival teve de tomar decisões. “Fizemos da qualidade a nossa bandeira, já que em Espanha os produtos tinham preços competitivos, mas ainda não tinham grande qualidade”, conta Pedro Faria. “Quando os espanhóis começaram também a trabalhar a qualidade, tivemos de nos focar ainda mais nos serviços prestados aos clientes”, prossegue o responsável.
Em 2008, a crise do subprime acabou por abalar a construção em Portugal e a Sival demorou cerca de quatro anos para se recuperar a dinâmica de outrora”, recorda o empresário. “Actualmente, sente-se um abrandamento da economia nacional e europeia”. Ainda assim, observa, o País continua a precisar de construção nova, bem como da reabilitação do parque imobiliário existente.
Tal como Telmo Ferraz, também Pedro Faria entende que a gestão do negócio não pode ter em conta apenas a sua rentabilidade. “É preciso olhar pela sustentabilidade do negócio, para que se possa estender no tempo”. Além disso, é preciso “fazer adaptações e escolhas, que garantam crescimento e diversificação de produtos”. “Nós diferenciamos os nossos produtos, apostando em investigação e desenvolvimento, através de parcerias estabelecidas com instituições de ensino superior, para produzir novos produtos, que serão o nosso futuro. E também encontramos produtos de terceiros que possam ser nossos parceiros, em termos de comercialização”, refere Pedro Faria.
Também o responsável pela Sival constata que o mundo acelerou e que deixou de existir tanto contacto físico nos negócios. Ainda assim, no caso desta fabricante de gessos, trabalha-se para se manter o cliente com proximidade. “Há turbulência no sector da construção civil, mas trabalhamos no sentido de manter os clientes, chegando, com eles, a soluções que vão ao encontro das suas necessidades”.
Jaime Filipe Grosso é um dos três administradores da Gosimat, empresa de comércio e indústria de materiais de construção, de Leiria, fundada em 1994. Recorda como era a gestão da empresa, quando foi fundada pelo pai, Jaime Grosso, fala sobre a gestão actual e ainda sobre o que a Gosimat entende que seja a gestão no futuro. Jaime Grosso trabalhava na construção civil quando decidiu abrir primeiro a Imogrosso – empreendimentos imobiliários, há 35 anos. Foi o contacto com um produto que era à época muito inovador, o pavimento flutuante de madeira, vindo do Brasil, que o levou a criar a Gosimat, há 30 anos.
Este produto tornou-se numa oportunidade de negócio e a empresa dedicava-se à sua distribuição. Já em 2005, a Gosimat abriu a sua primeira fábrica, para produzir sistemas metálicos para portas de correr, com marca própria Open Space. Em 2017, criaram uma nova indústria na área da carpintaria, para produzir portas, roupeiros, produtos fabricado à medida. E hoje a Gosimat emprega uma equipa de 110 funcionários. A partir de 2007, a gestão da empresa passou a ser partilhada com o filho Jaime Filipe Grosso e, desde 2012, a administração integrou ainda outro filho, Diogo Grosso.
“As áreas de negócio foram-se alargando e a Gosimat tem clientes por todo o País. Também vende cerca de 10% no exterior”, contextualiza Jaime Filipe Grosso. Nessa medida, os negócios sempre aconteceram à distância. No entanto, realça o administrador, quer no passado como no futuro, a empresa prima sempre por algum tipo de contacto directo com o cliente. O contacto directo do cliente com os produtos e com a Gosimat é tão importante que, embora muitas entidades comecem a optar por lojas online, esta empresa não o fez. “Até porque 95% dos nossos clientes são profissionais. É preciso que vejam os produtos por si mesmos”, nota Jaime Grosso. Como grande parte das feiras caiu em desuso, a sua aposta tem recaído sobre certames muito específicos, associados à hotelaria ou à arquitectura, acrescenta o administrador. Além da sustentabilidade económica, o empresário explica que a gestão das empresas tem hoje de se preocupar com a sustentabilidade ambiental e social. “Muitas vezes somos solicitados para apoiar projectos da comunidade e comparticipamos oferecendo materiais”,
exemplifica Jaime Filipe Grosso, reforçando que é mais uma forma de alimentar relações de proximidade.
Incorporação de inteligência artifcial
Encurtar os prazos de resposta e apostar na inteligência artificial são algumas das premissas que norteiam a gestão de várias empresas nos dias de hoje, como
é o caso da Tebis, empresa sediada na Alemanha, com 40 anos de experiência e presença em vários pontos do mundo.
Em nota de imprensa, a Tebis da Marinha Grande refere “ser líder global em soluções CAD/CAM e MES”, tendo “contribuído significativamente para o desenvolvimento tecnológico da indústria portuguesa, especialmente nos sectores de moldes, matrizes, modelos e engenharia mecânica”.
Com 15 anos de actuação no mercado nacional, a Tebis da Marinha Grande “distingue-se pela capacidade de reduzir tempos de produção até 80%, oferecendo soluções que potenciam a competitividade dos seus clientes”.
Como fornecedor de processos integrados, a Tebis “combina componentes funcionais de CAD, CAM, CAQ e MES, integrando tecnologias IoT existentes nas empresas, como máquinas, controladoree ferramentas. Esta abordagem, aliada a serviços personalizados de consultoria, formação e suporte técnico, garante que os clientes maximizem o potencial do software e optimizem continuamente os seus processos”, prossegue ainda.
“A empresa destaca-se na resposta aos desafios da Indústria 4.0, oferecendo processos altamente automatizados e soluções digitais inovadoras. A simulação da produção através de máquinas virtuais e gémeos digitais permite uma produção 24/7, enquanto contribui para a redução do consumo de recursos, desperdícios e ‘retrabalhos’, alinhando- -se com as metas de transição digital e carbono zero”, explica ainda a empresa.
Quanto à estratégia de gestão no futuro, a Tebis tem como foco “continuar a impulsionar o desenvolvimento da indústria portuguesa, oferecendo soluções tecnológicas que respondam aos crescentes desafios deste setor. A incorporação de inteligência artificial, a implementação de Lean UX e a disponibilização de soluções optimizadas para cada mercado, incluindo em cloud, são algumas das metas da empresa”, salienta ainda.