Sociedade
Inês Pereira, de Leiria, em Madrid: “Por favor, que aí em Portugal as pessoas sejam conscientes... fiquem em casa”
Em Espanha, a vida parece "um filme apocalíptico", mas "há uma onda de solidariedade muito forte"
Em Espanha, a situação agrava-se de dia para dia. Mais de 6.400 diagnósticos e 192 mortos provocados pela Covid-19. Com a entrada em vigor da quarentena obrigatória para travar a pandemia do novo coronavírus, que obriga a população a manter-se em casa, multiplicam-se as redes de entreajuda. “Há uma onda de solidariedade a nível cultural muito forte e estão a ser organizados festivais de música em streaming”, conta Inês Pereira, de Leiria, com outro exemplo de mobilização para responder ao novo cenário: “Os hotéis estão a colaborar com o governo para ceder espaços para tratar os doentes”.
Inês Pereira vive em Madrid, o epicentro do contágio. “Nos supermercados todos levam máscara e luvas. E quando se fazem compras online quem nos entrega vem de luvas. E pegamos nas coisas de luvas. E lavamos as mãos 20 segundos”.
Espanha demorou a reagir – a 8 de Março realizaram-se manifestações pelos direitos das mulheres e, mesmo depois de as escolas fecharem e de existirem recomendações para trabalho à distância, “as esplanadas estavam cheias”. Só nos últimos dias os comportamentos mudaram, explica Inês Pereira. “Em vários supermercados, na terça-feira, havia prateleiras vazias e alguns itens básicos esgotados como álcool e produtos de higiene”.
Com a explosão do número de infectados, aumenta a pressão sobre os serviços de saúde, que já não têm capacidade para ir ao domicílio recolher amostras. “O que está a acontecer agora é que se tens sintomas leves ficas em casa. Não interessa se tens coronavírus ou não, porque já não estão a fazer os testes quando a situação não é grave. Apenas se tens vários sintomas como tosse, cansaço, febre, falta de ar, se tomam medidas. Senão é ficar em casa a repousar e em caso de febre tomar paracetamol".
A ideia é "evitar idas aos hospitais e centros de saúde que estão muito cheios. E evitar mais contágios".
Não há resposta para todos. A leiriense conhece um caso em que a pessoa - já esta semana - esteve 24 horas sem conseguir atendimento através da linha telefónica criada em Espanha para a Covid-19.
“Parece um drama. Um filme apocalíptico americano. Mas não é. É real. E temos todos juntos que o combater, ficando em casa”, sublinha.
“Por favor, que aí em Portugal as pessoas sejam conscientes... fiquem em casa. Nada de ir visitar os avós e família... se for preciso ajuda, deixam as coisas à porta”.
Inês descarregou uma app para praticar ioga, uma app que é gratuita até Abril, precisamente para ajudar a ultrapassar a quarentena obrigatória. De resto, a rotina é também “ler, ver filmes, Netflix. Conversar muito com a família [em Portugal], amigos. Videochamadas”.
E a rede de suporte não desaparece, mesmo à distância. “Quase que dá vontade de abrir a janela e começar a falar com o vizinho da frente!”.