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Inovação tecnológica e patentes: armas eficazes no combate aos incêndios rurais

13 jun 2022 11:01

Raquel Antunes – Agente Oficial da Propriedade Industrial e Especialista em Patentes da J. Pereira da Cruz

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Com o verão à porta, volta a estar sob os holofotes a ameaça que anualmente assombra Portugal: os incêndios rurais.

Com uma paisagem mediterrânica de elevado risco e vulnerabilidade, o investimento em I&D é fundamental para minimização de impactos através da criação de tecnologias de prevenção, deteção, extinção e reabilitação.

A Propriedade Industrial, ao assegurar o retorno financeiro do investimento em I&D, constitui um incentivo à inovação com o potencial de alimentar o mercado com tecnologia de ponta para combater cada vez mais eficazmente esta ameaça.

Sob esta problemática, decorreu no passado dia 18 de maio a apresentação do Estudo Ibérico “Patentes e controlo de incêndios rurais”, realizado pelo INPI e pela OEPM, em colaboração com a AGIF.

O estudo revela que entre 2010 e 2021 foram publicados mundialmente 3137 pedidos de patente ou modelo de utilidade relacionados com incêndios rurais, e que o número de pedidos tem vindo a aumentar progressivamente na última década, principalmente nos últimos 5 anos, após os grandes incêndios de 2017.

A Espanha é o país da EU com mais pedidos. Em Portugal, apesar da aposta no financiamento público da investigação científica e tecnológica e da existência de grupos de investigação dedicados ao estudo dos incêndios florestais e rurais nas suas múltiplas vertentes (e.g. SCAPE FIRE do ISA, FireLoc do INESC Coimbra, FoCoR da FCT/UNL, ResNetDetect do IST/UL, FIREFRONT do IST, foRESTER da FCT/UNL), o número de pedidos de patente é ainda muito reduzido, o que deixa grande margem para evolução.

No estudo são identificados quatro sectores tecnológicos: deteção e prevenção de incêndios, extinção, equipamentos de proteção e restauração pós-incêndio. Para cada sector é feita uma análise dos últimos 10 anos, bem como dos pedidos de patente mais inovadores do período 2019-2021, correspondendo a invenções cuja proteção foi estendida a mais do que um país, potencialmente com maior impacto comercial e tecnológico.

Sendo a proteção nacional ainda predominante, a aposta na internacionalização pode conferir vantagem competitiva e maior retorno do investimento ao permitir expandir o mercado e explorar o potencial inerente ao licenciamento.

De um modo geral, cada vez mais invenções estão relacionadas com o uso da inteligência artificial e o uso de drones no combate e controlo dos incêndios rurais.

A extinção de incêndios é o sector com maior atividade de patenteamento, sendo as tecnologias aéreas as mais inovadoras, com destaque para drones que transportam agentes extintores, como é o caso da tecnologia patenteada WILD HOPPER, da empresa espanhola DRONE HOPPER.

A capacidade de aplicar diretamente no foco do incêndio água nebulizada e ar em alta velocidade faz do WILD HOPPER uma ferramenta competitiva no controlo de incêndios.

Um outro exemplo de tecnologia patenteada é o Gorgui, uma ferramenta multiusos desenvolvida pela empresa Vallfirest, uma referência espanhola atualmente presente em mais de 60 países e com ferramentas que estão a ser utilizadas em incêndios florestais na maior parte do mundo. 

A restauração pós-incêndio é a área em que menos se patenteia, apesar do seu tremendo impacto na perda de solos e no avanço da desertificação. Contudo, precisamente por ser ainda uma área pouco desenvolvida, é particularmente atrativa para o investimento, permitindo aos agentes inovadores marcar posição no mercado e obter uma proteção por patente mais abrangente e maior retorno financeiro.

Mais ainda, a nova Estratégia de proteção do solo da EU para 2030, um resultado tangível crucial da Estratégia de biodiversidade da UE para 2030, que visa contribuir para os objetivos do Pacto Ecológico Europeu, promete ser um forte incentivo para o desenvolvimento tecnológico na restauração pós-incêndio.

A Estratégia da Biodiversidade prevê, ao abrigo do InvestEU, a mobilização de 10 mil milhões de euros nos próximos 10 anos, sendo potencialmente determinante para orientar o investimento em I&D e proteção da inovação e marcar o rumo tecnológico na área dos incêndios rurais.