Sociedade

Investigador do MARE defende áreas marinhas protegidas

2 ago 2019 00:00

André Afonso, do Politécnico de Leiria, publicou artigo na revista Nature.

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O investigador do Politécnico de Leiria, André Afonso, integra a equipa de especialistas que publicou na Nature, uma das mais importantes revistas científicas do mundo, um artigo sobre o impacto da pesca na sustentabilidade de diversas espécies de tubarões. Os investigadores concluíram que cerca de um quarto dos habitats dos tubarões estão em zonas de pesca activa, o que se traduz numa grande ameaça a estas populações, que já têm vindo a diminuir em todo o mundo. Segundo uma nota do Politécnico de Leiria, a equipa internacional de investigadores tentou determinar as zonas de sobreposição entre as rotas dos tubarões e as zonas de pesca, usando dispositivos de rastreamento de movimentos por satélite em tubarões, e cruzando essa informação com a das rotas de pesca mundial. No total foram seguidos 1.681 tubarões adultos, de 23 espécies, marcados com estes transmissores de satélite, e rastreados os movimentos de embarcações de pesca. Os resultados permitem apurar com detalhes sem precedentes que 24% do espaço usado por tubarões num mês coincide com o das rotas de pesca industrial com palangre, o tipo de pesca responsável por capturar mais tubarões no alto mar. André Afonso defende que sejam “criadas áreas protegidas oceânicas” e que sejam colocados equipamentos nos barcos de pesca que possam monitorizar a sua acção. “Verificámos que 24% do espaço usado por tubarões coincide com o das rotas de pesca industrial. Se falarmos do tubarão azul há uma sobreposição de 76%. Isso demonstra que as espécies que estão por baixo dos equipamentos de pesca deixam de ter refúgio”, adianta ao JORNAL DE LEIRIA. Com os dados basais recolhidos um pouco por todo o mundo, o investigador – que desenvolveu o seu trabalho no nordeste brasileiro com a espécie tubarão tigre – considera que é importante não só criar as áreas protegidas como “períodos do ano de pesca condicionada”, protegendo os habitats oceânicos desta espécie e garantindo assim a sua sustentabilidade. “Vamos mobilizar- -nos para agir. Esta pesca desenvolve-se em águas internacionais, mas temos de alertar as autoridades internacionais para as consequências. Só agora estamos a utilizar tecnologia que nos permite seguir o tubarão e, por isso, conseguimos entender a dimensão do problema”, acrescenta. O investigador salienta que os tubarões são uma “espécie crucial no ecossistema marinho”, uma vez que são “predadores de topo, que mantêm o ecossistema equilibrado”. “Quando removemos estes tubarões do ecossistema vamos produzir efeitos imprevisíveis.” André Afonso recorda a apetência da captura da barbatana de tubarão para a sopa oriental. “Como a maioria dos tubarões apanhados são adultos, esta é uma das maiores ameaças à sustentabilidade das espécies.

 

EM DESTAQUE
André Afonso tem conduzido investigação nas áreas da ecologia e conservação de tubarões e do meio marinho, tendo desenvolvido uma grande parte do seu trabalho no nordeste brasileiro. O artigo científico resulta do estudo Global spatial risk assessment of sharks under the footprint of fisheries, liderado pela Marine Biological Association – MBA, e conduzindo por uma equipa internacional com mais de 150 cientistas de 26 países.