Desporto
José Amoroso: “Meti na cabeça que os putos deste País iam saber jogar ultimate frisbee”
Há 17 anos foi de Erasmus para a Bélgica, onde contactou com uma modalidade sem árbitros e um disco a fazer de bola. Desde então, tem tentado implantá-la em Portugal.
Dezassete anos depois, regressou à Bélgica no mês passado, levando uma equipa de ultimate frisbee da sua cidade e fundada por si.
Foi um orgulho brutal estar num dos maiores torneios do Mundo com uma equipa de Leiria. Só se viam discos, 12 campos e espaço para mais alguns. Em Portugal não há áreas verdes assim e isso faz com que não tenhamos uma identidade desportiva de lazer e exterior.
Como tudo começou?
Há 17 anos, quando fui para Bruges, estava a sair da Lusófona como primeiro aluno de Erasmus. Fui sozinho e fiz muito bem. A nível do currículo escolar de Educação Física havia diferenças muito significativas, pois era muito mais ecléctico. Eram ensinadas modalidades como o lacrosse, o rope skipping, o hóquei em campo e o ultimate frisbee, que tinha a grande novidade de ser praticada com um disco e estava muito desenvolvido. Parecia um burrinho que não sabia o que era o ultimate. Apaixonei-me e meti na cabeça que os putos deste País iam saber jogar ultimate frisbee. É óbvio que era um naif de todo o tamanho, mas sou teimoso e não desisto à primeira. Foi uma guerra, porque não tinha qualquer apoio.
Nessa altura não havia ultimate frisbee em Portugal?
Quando regressei procurei e encontrei um grupo que jogava nos jardins de Belém. A evolução foi muito gradual. A partir de 2003 tracei um caminho de formação nas escolas. Foi um percurso sinuoso, com muitas quedas. Tentei apoios no Desporto Escolar, nas universidades e outras entidades que pudessem estar interessadas, mas o facto é que não tinha muito para mostrar. Fui fazendo formações aqui e ali, mas sem apoio. Mesmo assim, foram uns milhares de professores e alunos que me passaram pelas mãos.
O que fez com que se entusiasmasse tanto por essa modalidade?
Joguei andebol, voleibol, ténis, ainda fui a algumas provas de atletismo e jogava basquetebol de vez em quando. Aquela chamou-me a atenção por causa da beleza do ver os efeitos do disco a sair e a voltar ao campo. E depois, quanto mais nos envolvemos, mais nos vamos apercebendo da riqueza ética que tem. A parte da auto-arbitragem é um ponto que as outras modalidades podem beber, porque acredito que todos os desportos podem realmente não ter árbitro. Quem pratica com o disco passa a ter uma consciência um pouco diferente do desporto. Está mais atento a si próprio. Quando jogava andebol sabia quando fazia falta, mas não dizia. Estava lá o árbitro e ele que dissesse. No ultimate, como não há árbitro, se faço falta tenho de assumir. Foi precisamente sobre o fair play na modalidade que apresentei a minha tese de mestrado, em 2011.
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