Sociedade

Manuel Halpern: "os 'ronaldos' e os 'salvadores sobral' do cinema andam aí"

24 ago 2017 00:00

Escritor e editor no "Jornal de Letras, Artes e Ideias", uma das mais importantes publicações culturais nacionais, diz que a cultura é uma aposta inteligente de futuro, fala dos desafios que se colocam ao jornalismo.

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Jacinto Silva Duro

Recentemente, juntamente com outros autores, entre eles o leiriense Firmino Bernardo e Mário de Carvalho, lançou a revista literário A Morte do Artista. Como surgiu esta publicação?
Uma das peças teatrais do Firmino ganhou um prémio na Sociedade Guilherme Cossoul e a sociedade promove anualmente uma espécie de feira de editores independentes chamada Reverso. O Firmino teve a ideia de nos desafiar a fazer qualquer coisa a partir dos nossos livros para apresentar nessa feira. Fizemos a selecção e ele articulou e compilou os textos para uma leitura encenada a que chamámos A Morte do Artista. Como ficámos satisfeitos com o resultado, e como havia a ideia do João Eduardo [Ferreira] de dar um prémio simbólico a um escritor, lembreime de fazemos uma revista. Foi uma coisa meio disparatada, lançada num jantar, mas eles levaram aquilo tremendamente a sério... Escrevemos e escolhemos textos, elegemos as pessoas que queríamos desafiar a participar, falámos com o Mário de Carvalho, que escreveu um texto para a revista, o André Ruivo cedeu algumas ilustrações e o Paulo Romão Brás fez o trabalho gráfico. Partimos para isto de forma amadora, sem qualquer preparação... Pensámos que íamos vender apenas nos lançamentos e, quando as livrarias começaram a pedir para lá irmos, chegámos à conclusão de que nem sequer tínhamos base legal para lá deixar a revista e, muito menos, uma margem de lucro para elas, porque quisemos fazer o preço mais baixo possível para que ninguém deixasse de comprar A Morte do Artista.

Bastas vezes, é a “morte do artista” que torna a sua obra conhecida... 
Uma das coisas boas desse título são as várias leituras possíveis. A ideia apareceu na leitura encenada na Guilherme Cossoul, porque nós vendíamos os nossos próprios livros. Quando um autor vende e tem de fazer publicidade a si próprio, é “a morte do artista”.

Actualmente, os escritores têm, cada vez mais, de fazer essa auto-promoção. Alguns, como Gonçalo M. Tavares, Valter Hugo Mãe ou José Luís Peixoto são uma espécie de estrelas pop, como se fossem uma banda chamada Os novos escritores portugueses. Porém, é um grupo restrito para o qual há já algum tempo que não têm aparecido novos talentos. Concorda?
Tem alguma razão no que diz. A nova geração faz auto-promoção sem pudor. Estive há pouco no Festival Literário do Sal, em Cabo Verde, com curadoria do José Luís Peixoto, onde ele falou disso abertamente. "Há escritores que têm pudor em quererem ser lidos e há outros que querem ser lidos. Se querem ser lidos, têm de fazer por isso e, como tal, não devem ter receios." Chegou a dizer que foi a uma zona do Brasil, a sul, onde andou a distribuir livros em Português e Espanhol pelas aldeias. Voltando à sua pergunta, na nova geração, identifico a Ana Margarida de Carvalho que começou a publicar mais tarde do que os nomes de que falou, e vai aparecendo um nome ou outro, mas dá a ideia de que a anterior geração de escritores ainda não encontrou a geração seguinte.

E a ligação ao Brasil? Os nossos escritores costumam fazer digressões por lá, mas não parece ser muito comum os autores brasileiros virem a Portugal.
De facto, não há muitos autores brasileiros a darem-se a conhecer em Portugal. A nossa ligação com o Brasil é especial... Conhecemos muito do país através das novelas e da música, mas há um preconceito de que "o Brasil é bom é para a festa". Como a literatura parece ser uma “coisa séria” e “o Brasil é bom é para festa”, olha-se para os escritores brasileiros com desconfiança. Nas nossas universidades, entre um livro em Inglês e a sua versão brasileira, prefere-se a inglesa. Por outro lado, se temos preconceito em relação ao Brasil, temos paternalismo para com os países africanos. O preconceito não se coloca, até porque, em termos ortográficos, antes do Acordo Ortográfico, fazíamos todos parte do mesmo grupo, embora haja, agora, três grupos, quando havia apenas dois. Além disso, em África, a referência editorial é sempre Portugal, coisa que não acontece no Brasil. Espanha soube liderar o processo da língua com as suas antigas colónias. É a mãe da língua e os restantes países têm de seguir essa regra, com eventuais adaptações. No nosso caso, o Brasil é tão grande que se está a marimbar para Portugal.

A existência de um Jornal de Letras, num País onde se diz que se lê pouco, é uma boa notícia... ou é mau sinal haver só um jornal de letras?
Acho que não é nada mau haver um JL. É um caso raro, independentemente do País de que se esteja a falar. Em Espanha, há várias revistas literárias, mas jornal, penso que não há. O Jornal de Letras é um caso raro e especial e é um milagre ter durado todos estes anos. O mérito é quase todo do director, José Carlos de Vasconcelos, que faz uma ginástica incrível para que a publicação resista, usando como pilares a literatura e a Lusofonia, dando prioridade ao que é português e não indo atrás de modas. É estranho, mas segundo os dados que avaliam os índices de leitura em papel, entre as publicações nacionais, no ano passado, toda

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