Sociedade
Morreu Viriato Relvas, sapateiro de Leiria
Sócio fundador da União Desportiva de Leiria, Viriato Relvas nasceu em Leiria onde tinha uma oficina de sapateiro.
Figura conhecida da cidade de Leiria, onde mantinha uma oficina de sapateiro há quase sete décadas, Viriato Relvas faleceu esta quinta-feira. Tinha 82 anos, feitos em Agosto.
Foi também sócio-fundador da União de Leiria, clube que, numa nota publicada na sua página do facebook, manifesta "o seu profundo pesar pelo falecimento, endereçando "à família e amigos as mais sentidas condolências".
Descendente de uma família natural do Louriçal, no concelho de Pombal, Viriato Relvas nasceu em Leiria, tendo sido criado no centro histórico, onde tinha a sua oficina de sapateiro, localizada numa rua nas imediações do centro comercial.
O mais novo de oito irmãos, fez a quarta classe na Escola de Santo Estevão e pouco depois começou a trabalhar como servente de pedreiro. Esteve neste ofício cerca de dois anos e na altura sentia que gostaria de ser pedreiro. Mas o destino que lhe estava reservado era outro.
Em Outubro de 2014, contou ao JORNAL DE LEIRIA, na rubrica “História Vida” que, um dia, um colega pedreiro bateu-lhe. “Talvez tivesse razão, mas eu não gostei”, contou. O jovem Viriato não se ficou e ripostou. O resultado foi uma semana de castigo.
Como não podia ficar em casa na malandrice, foi para junto do irmão que trabalhava numa oficina de sapateiro. “O dono disse para eu me sentar e aprender, e assim foi”. Viriato Relvas aprendia depressa, começou a gostar do ofício e nunca se arrependeu de não ter voltado à construção.
Apenas largou a actividade durante os 18 meses em que cumpriu o serviço militar, no então RAL4, em Leiria. Quando rebentou a guerra no Ultramar foi chamado de novo, mas esteve apenas um mês no quartel.
De regresso, continuou a arranjar calçado, mas a dada altura foi desafiado a deixar a oficina e o patrão. “Não saí. Ele disse-me que um dia haveria de ficar com a oficina, e assim foi”, contou ao JORNAL DE LEIRIA. Comprou o trespasse por “cinco contos”, “muito dinheiro na altura [final dos anos 60]”. Pagava de três em três meses 500 escudos ao Banco de Portugal, “com letras”.
Naquele artigo, Viriato Relvas recordou os tempos em que havia muito trabalho, quando a oficina produzia botas e sandálias para a então sapataria Zita, em Leiria. Fabricava-se também calçado por medida, para quem tinha algum problema nos pés.
“Tínhamos de tirar as medidas, perceber a diferença entre o peito do pé e a perna”, explicou. “Aprendíamos a fazer um sapato de raiz”, referiu, adiantando que o ofício de sapateiro corre o risco de desaparecer porque não há quem queira aprender.
Depois da aposentação, continuou a trabalhar, como forma de completar a reforma, mas sobretudo pelo convívio que o facto de estar todos os dias na oficina lhe proporcionava.
Amante de futebol, foi sócio fundador do então Sporting Leiriense, que mais tarde deu origem à União Desportiva de Leiria. Quando a equipa jogou na primeira divisão acompanhou-a por todo o País e hoje, sempre que pode, continua a ir ver os jogos.