Viver

Nuno Jordão: “Luxo é poder ter vícios, bons ou maus”

16 mai 2016 00:00

As escolhas do actor de Leiria

(Fotografia: DR)
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Se não estivesse ligado ao mundo da arte, o que seria?
Biotecnólogo, já que foi para o que andei a estudar meia década. Noutras palavras, fazer investigação científica na área da saúde. Todos nós queremos ter um legadozinho e essa parece-me uma forma nobre de ter um.

O projecto que mais gozo lhe deu fazer
É muito recente na memória, mas disto tenho a certeza: Porta Paraíso, a produção deste ano do GrETUA (Grupo Exp. de Teatro da Univ. de Aveiro), foi do melhor que fiz. Um gosto enorme ser encenado pelo Bruno e Nuno dos Reis, e nos últimos meses ter vivido o Fausto.

O espectáculo, concerto ou exposição que mais lhe ficou na memória
O Museu Nacional Machado dos Santos, em Coimbra, e a mostra da 31.ª Bienal de São Paulo, em Serralves, foram uma grande surpresa de visita. E Paredes de Coura, em 2011, terá sempre a marca romântica de primeiro festival de Verão.

O livro da sua vida
De longe: Jerusalém, escrito pelo Gonçalo M. Tavares. Caramba, os loucos. E siga uma menção honrosa para a Metamorfose, do Kafka, tendo em conta a tenra idade em que me socou.

Um filme inesquecível
Últimos assombros de cinema que vi foi O Filho de Saul e, num canto oposto, Force Majeure. Mas um que sei que hei-de revisitar sempre é Magnolia, do Paul Thomas Anderson, que cresceu comigo e comigo ficou.

Se tivesse de escolher uma banda sonora para si, qual seria?
Há tantas. Mas a ter de escolher, Death Grips, nas alturas de marés-vivas, Tim Hecker, nas de águas mais paradas.

Um artista que gostava de ter visto no Teatro José Lúcio da Silva
Do que sei hoje, devia muito ter ido ver Diamanda Galás, em 2011. Também acho que a minha vida já dura há muito tempo sem ter visto o Rodrigo Leão ao vivo. E na ironia, o show da vidente Anne Germain deve ter sido uma delícia.

Uma viagem inevitável
Sem gozos, Coreia do Norte. A casca do país que se mostra ao turista, repleta de paradas de sorrisos amarelos, é de certa forma a maior peça de teatro do planeta, orquestrada sobre a população por coacção com precisão macabra. Mais urgentemente, queria fazer a linha do Tua a pé, antes que seja apenas feita de canoa.

Um vício que não gostava de ter
Chesterfield Red, de enrolar. Gosto tão pouco do gostar de fumar que até guardo todas as onças de tabaco compradas, a ver se pesa na minha consciência. Até agora sem grande sucesso.

Um luxo
Ter-se os direitos humanos básicos minimamente saciados, e ainda querer beber um cafezinho todos os dias. Luxo é poder ter vícios, bons ou maus.

Uma personalidade que admira
É sempre admirável encontrar alguém com personalidade.

Uma actriz que gostava de levar a jantar
Posso levar dois actores? Que se o cariótipo de um homem é 44+XY, então dois homens podem formar o XX de uma mulher. E assim podia manjar com o Tim Heidecker e o Eric Wareheim, os maiores na anti-comédia desde o Andy Kauffman.

Um restaurante da região
Mesmo sendo réstias da adolescência a falar, é com uma “Sandes à 32”, do café homónimo ao lado do liceu, que oficializo o eu estar em Leiria.

Um prato de eleição
O prato raso Butterfly Parade, da colecção Vista Alegre Christian Lacroix, é muito muito bonito. E se houver alguma iguaria italiana ou refeição com bacalhau em cima desse prato, mais um cheesecake de mirtilo… ó maravilha!

Um refúgio (na região)
Sempre que possível, é dar um salto ao vale do Lapedo ou à Fórnea, nas serras de Aire e Candeeiros. Quando só tenho os pés para ir a sítios, chega-me bem as “cataratas” do Lis em frente ao Moinho de Papel, bom nicho de natureza na cidade.

Um sonho para Leiria
Exorcizar o fantasma do sopé do castelo e ter-se o estádio antigo de volta, mais o pavilhão. Já agora, que venha um corvo grasnar a Leiria por um turismo mais coeso (ai, tanto património histórico e natural subestimado) e maior dinamização cultural para os que cá vivem e visitam. Não é suposto fazer-se por ser Capital Europeia da Cultura?

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