Viver
O dia seguinte
O Grande Plano | Sofia Mota
No dia 23 de Agosto de 2017 passou por Macau o tufão Hato. Uma daquelas coisas que até à data só via em imagens dos outros, que ficavam lá muito longe, num lugar onde a minha realidade não tocava.
Esta imagem é do dia seguinte. Do dia em que Macau acordou destruído, em que não havia néons nem casinos que calassem o silêncio da desolação. Foi o dia em que a vida continuou entre escombros, inundações e recuperações de um medo solene. Mas, o dia seguinte e os que a ele sucederam foram também únicos. Foram o tempo em que não existiu espaço para diferenças de raças nem credos.
De vassouras e lixo nas mão e cigarros na boca, todos se juntaram para ter de volta a “nossa” casa. Escolher uma imagem é um acto quase cruel. Pensar que uma imagem é a realidade é uma presunção ingénua. São histórias, de cada um e de todos, que se juntam. Esta é uma mais uma.
Não de desolação e tragédia, mas de esperança, de força, e de união. É a capacidade de continuar, cada um à sua maneira, depois de perceber a insignificância que somos perante uma ventania.