Viver
“O som é meio pop, meio eletrónico. Chamo-lhe depressão dançável”
Margô prepara o EP de estreia com canções que vêm do confinamento e procuram estrada para andar
O princípio encontra-se em Chaves, de onde Margarida Martins é natural. No sofá de casa da família, com a pandemia a fechar tudo, excepto o mundo interior de cada um. “Em meia hora, nasceu o “Dançar Deitada””, explica a cantora e compositora, sobre o single que se prepara para assinar com o nome Margô. “Uma demozinha muito básica”, esboço da canção que agora está produzida, fechada e, finalmente, pronta a ser lançada nas plataformas digitais.
Pela primeira vez, o público ouviu todos os temas a incluir no EP de estreia de Margô, durante o concerto do festival Clap Your Hands, 6 de Maio, no Teatro Miguel Franco. Seguia-se nova apresentação, dia 13, adiada por motivos logísticos, no Texas Club, onde a cantora e compositora a residir em Leiria voltaria a ser acompanhada por Pedro Carvalho, músico dos Whales. Ao vivo, é ele o responsável “por tudo o que não é cantar”, ou seja, instrumentais e efeitos que ajudam a criar um ambiente onírico e melancólico.
No confinamento, a antiga vocalista do colectivo Malaboos começou “a compor, compor, compor” – e a construir uma espécie de diário de canções e emoções. “Chamo-lhe depressão dançável”, comenta. “O som em si é meio pop, meio eletrónico”. E a letra “são desabafos”. Há um texto em que se indigna com os medos de quem não sabe lidar com a diferença nos outros, os restantes, e isto dito com a alegria e a certeza de uma voz do norte, “sou eu a queixar-me da minha vida”. No fim de contas, “temos todos razões para nos queixarmos”. E a artista doravante conhecida como Margô também as tem.
Depois de Braga e do Porto, com a mudança para perto do rio Lis, num dos períodos de tréguas da Covid-19, a ex-aluna da Universidade do Minho, com licenciatura em Economia e mestrado em Economia Social, obteve a pós-graduação em Marketing Digital no Politécnico de Leiria e deu-se a conhecer, em nome próprio, primeiro num jantar do festival A Porta de 2022 e já em Janeiro deste ano no lançamento pelo Município da agenda cultural para o primeiro semestre.
A música está presente nos dias de Margarida Martins desde muito cedo. Por influência do pai, guitarrista, começou a aprender piano com três anos de idade. Entre a adolescência e a maioridade, desinteressou-se, até que, “voltou a vontade de fazer coisas”. No EP de estreia, Pedro Carvalho fica com o elogio de uma faixa – “ele salvou aquela, de facto” – mas Margô rejeita qualquer semelhança com os Whales. “Nada a ver. É o meu projecto, meu”, sinaliza. E, por ser o primeiro registo de estúdio, não há convidados. “Achei que devia fazê-lo sozinha”.
O single (e videoclipe) “Dançar Deitada” deverá sair até ao Verão, quanto ao EP, ainda sem título, talvez no final do ano ou início do próximo.