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Palavra de Honra | Sinto muita vergonha alheia por quem maltrata quem não tem como se defender

26 jun 2022 14:19

Telma Fontes, educadora ambiental

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- Já não há paciência...para gente homofóbica, racista, que não se consegue colocar nos chinelos dos outros, para todos os (des)entendidos em ambiente, para os que não sabem que basta pode não ser sinónimo de chega. Já não há paciência para a irracionalidade de certos comentários nas redes sociais e para crianças enjauladas.

- Detesto...favas, favas, favas! Também detesto que me atirem areia para os olhos, uso lentes, e é chato!

- A ideia...de não conseguir fazer mais do que aquilo que faço, de perder algumas faculdades, apavora-me. A ideia de conseguir mudar o mundo de alguém alenta-me, a ideia de todos os dias ter a sorte de através do meu trabalho semear uma sementinha por um mundo melhor torna-me a pessoa mais feliz do mundo.

- Questiono-me se... estarei no sítio certo. “eu só estou bem onde não estou, só quero ir para onde não vou”, resume um pouco a minha vida. Será que estarei no sítio certo? Não deveria estar em outro lugar? Fará sentido estar aqui?

- Adoro... pirilampos, morcegos e osgas. Jantares no Atlas e as pataniscas da Tasca da Gracinda. Saltar poças de água e ver chuvas de estrelas no terraço da casa da avó. A família que construí, as tardes na casa das Cortes e os improvisados no Barracão. O nascer do sol no Colcurinho e jaca descascada!

 - Lembro-me tantas vezes... das férias de verão, dos chapéus de casca de laranja que o avô João me fazia e das canas para fazer bolinhas de sabão, do baloiço forrado a alcatifa, dos dias de Páscoa que começavam às 8h00 da manhã em casa da tia Aurora.

- Desejo secretamente... que um dia os jardins deixem de ser campos de futebol relvados cortados à “gilette”, que admirem prados floridos e flores nas bermas das estradas.

- Tenho saudades... das tardes perdidas no rio, dos lanches de café com broa e queijo de cabra, de andar descalça na rua, da carrinha biblioteca da “Calouste Gulbenkian”, dos banhos de mangueira, de escorregar na caruma, de correr na levada, de apanhar morangos silvestres e “pão com queijo” e do cheiro da roupa a corar. Tenho muitas saudades de quem me viu crescer. Tenho saudades do chão e das gentes da Ilha do Príncipe.

- O medo que tive.. quando de madrugada saí para ver o acordar dos gorilas na Guiné Bissau, mas o medo foi maior quando me disseram que enquanto esperávamos deitados no capim, passou uma manada de búfalos.

- Sinto vergonha alheia... de quem enche a boca para falar de ambiente, sem fazer a mínima ideia do que está a falar e como se não bastasse ainda diz “meio ambiente”. Sinto muita, mas mesmo muita, vergonha alheia por quem maltrata quem não tem como se defender.

- O futuro... alguém me disse um dia “que a Deus pertence”, mas como ateia sei que ele está nas minhas mãos! O futuro será escrito por mim, de mãos dadas com as causas ambientais e sociais, com as minhas dúvidas, ansiedades, com a minha maneira atabalhoada de lutar e defender aquilo em que acredito.

- Se eu encontrar... o senhor que escreveu os contos infantis do “viveram felizes para sempre” vou ter uma conversa muito séria com ele! É feio enganar as criancinhas.

- Prometo... não gosto de promessas, mas vou tentar ser uma pessoa porreira e terra a terra, continuar a lutar pelos meus ideais, e colocar amor em tudo o que faço, pois de outra maneira não sei viver!

- Tenho orgulho... na neta que fui e nos avós que tive!