Viver
Peniche ganha Prémio Europa Nostra de Património Cultural
Projecto da antiga fortaleza

O Museu Nacional Resistência e Liberdade-Fortaleza de Peniche, o programa governamental Saber Fazer e o projecto de revitalização da tecelagem tradicional de Almalaguês, em Coimbra, garantiram este ano, a Portugal, três prémios Europa Nostra na área do Património Cultural.
Instalado na Fortaleza de Peniche, uma das prisões políticas da ditadura do Estado Novo (1933-1974), o Museu Nacional Resistência e Liberdade foi distinguido na categoria Conservação e Reutilização Adaptativa. O projecto de reabilitação e adaptação é do Ateliê AR4, do arquitecto João Barros Matos.
Inaugurado em 27 de abril de 2024, 50 anos após a libertação dos presos políticos da ditadura, o museu tem como missão investigar, preservar e comunicar a memória nacional relativa à resistência ao regime fascista português, a partir das memórias e experiências dos que lutaram pela liberdade e pela democracia.
A fortaleza está classificada como monumento nacional desde 1938.
Na categoria Educação, Formação e Competências foi distinguido o programa governamental “Saber Fazer”, estratégia para a salvaguarda das artes e ofícios tradicionais.
Este programa apresenta “a produção artesanal tradicional como um sector viável, sustentável e relevante, procurando destacar o trabalho das artesãs e dos artesãos, bem como os produtos, processos e materiais, na sua relação com o contexto sociocultural e a paisagem natural”, segundo se lê no seu sítio na internet.
Entre as artes artesanais, o programa inclui, entre outras, o barro negro, bordados, cestaria de vime de madeira rachada, cutelaria, rendas de bilros, palitos de Lorvão e a construção de violas de arame.
O projecto “Almalaguês - Tecer o futuro com a tapeçaria do tempo”, em Coimbra, foi distinguido na categoria Envolvimento dos Cidadãos e Sensibilização. Este projecto visa revitalizar a tecelagem tradicional da freguesia de Almalaguês, em Coimbra, mobilizando a comunidade local e a participação activa dos mais jovens, em particular.
Aos Prémios Europa Nostra apresentaram-se 251 candidaturas, por organizações e indivíduos de 41 países europeus, que foram avaliadas por um júri composto por 11 peritos europeus em património cultural, distribuídos por comités, segundo as respectivas categorias.
Este ano registou-se um aumento de 45 candidaturas de mais cinco países, em relação ao ano passado.
Por cada categoria foram distinguidos projectos dos quais sairá um grande vencedor que será conhecido a 13 de Outubro, numa cerimónia no edifício Flagey, em Bruxelas, que contará com a participação do comissário europeu da Juventude, Cultura e Desporto, o maltês Glenn Micallef, e do presidente executivo da Europa Nostra, o historiador alemão Hermann Parzinger.
A cerimónia acontecerá no âmbito da Cimeira Europeia do Património Cultural que se realiza na capital belga nos dias 12 a 14 do próximo mês de Outubro.
Nesta cerimónia será também conhecido o vencedor do Prémio Escolha do Público, que receberá 10.000 euros. A escolha do público é feita online - Public Choice Award -, até ao dia 12 de Setembro.
Os escolhidos repartem-se pelas categorias Conservação e Reutilização, Investigação, Educação, Formação e Competência, Envolvimento e Sensibilização dos cidadãos.
Na categoria conservação e adaptação a novos usos, além do Museu Nacional Resistência e Liberdade, encontram-se o projecto do telhado da torre da Igreja de S. Maurício, em Spitz na der Donau, na Áustria, a Câmara Municipal de Antuérpia, na Bélgica, o Hotel Solvay, em Bruxelas, o antigo Mercado Municipal de Nicósia, em Chipre, a casa histórica Kambones 1615, na ilha grega de Naxos, o complexo Cultural de Lodz, na Polónia, a Porta de Alcalá, em Madrid, e a Casa das Camélias, da Wentworth Woodhouse, no Reino Unido, país não associado ao Programa Europa Criativa, da União Europeia (EU).
Na categoria Investigação, os escolhidos foram os projectos The Heritage Trees, da Bélgica, Odeuropa, investigação partilhada pelos Países Baixos, França, Alemanha, Itália, Eslovénia e Reino Unido, o programa de arqueologia glaciar Secrets of Ice, da Noruega, e o projecto pan-europeu Herança Árabe, coordenado por Espanha.
A categoria Educação, Formação e Competência, além do programa Saber Fazer, conta ainda como o programa de voluntariado Herança Europeia, da Alemanha, o Centro Astra de actividades e fontes regionais de Sibiu, na Roménia, e o Pró Monumenta, projecto de manutenção preventiva de monumentos, da Eslováquia.
Nesta categoria também foi distinguido um projecto da Santa Sé, que não está associada ao Programa Europa Criativa, a Escola de Artes e Ofícios da Fábrica de S. Pedro, na cidade do Vaticano.
Na categoria Envolvimento e Sensibilização dos cidadãos estão nove projectos: a tapeçaria de Almalaguês, de Portugal, "A Arte de Proteger [o parque natural de] Bedechka", em Stara Zagora, na Bulgária, Baltic 3D Wrecksite Ontology, da Finlândia, o restauro da catedral de Notre-Dame, em Paris, a campanha de donativos "The Culture of Ukraine has no Means of Defence”, da Ucrânia e Lituânia, as Jornadas do Património Cultural, da Polónia, “Casa Ouriço, Inventando um Mundo Melhor”, da Sérvia, “Casa Batlló: Integrar a Neurodiversidade no Património Mundial”, de Barcelona, Espanha e o Festival All Together, em Kiev.
Na categoria Campeões do Património os distinguidos foram o arquitecto paisagista alemão Peter Latz, nascido em 1939, Inge Bisgaard, nascida em 1958, curadora do Museu e Arquivos da ilha dinamarquesa da Gronelândia, que em 2022 já recebera o Prémio Príncipe Henrique/Europa Nostra, a filóloga moldova Varvara Buzilă, nascida em 1955, especialista em etnografia.
A Moldova não está associada ao Programa Europa Criativa, sendo um dos três estados que não fazem parte da UE, com Reino Unido e Vaticano, mas que viram projectos distinguidos com um Prémio Europa Nostra.
Os Prémios Europa Nostra “destacam e divulgam as melhores práticas na área do património na Europa, incentivam o intercâmbio transfronteiriço de conhecimentos e ligam as partes interessadas do património em redes mais vastas”, segundo nota de imprensa da organização enviada à agência Lusa.
A Europa Nostra, representada em Portugal pelo Centro Nacional de Cultura, apresenta-se como a maior rede de defesa do património na Europa, mantendo relações com a União Europeia, o Conselho da Europa e a Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO), entre outras organizações.
Os Prémios Europa Nostra foram criados pela Comissão Europeia, em 2002, e têm sido geridos pela organização Europa Nostra, actualmente presidida pela cantora lírica italiana Cecilia Bartoli.