Sociedade
População protesta contra obras no promontório da Nazaré
Centenas de populares concentraram-se esta manhã na zona do Bico da Memória, em protesto contra a demolição dos muros no promontório e a construção de uma plataforma metálica
O Sítio da Nazaré foi, na manhã deste domingo, palco de uma concentração de centenas de populares, que protestaram contra as obras no promontório, na zona do Bico da Memória.
O projecto da Agência Portuguesa do Ambiente (APA) para a estabilização das arribas, num investimento de cerca de 1,7 milhões de euros, prevê a remoção dos muros no promontório e a construção de uma plataforma metálica suspensa no Bico da Memória.
“Precisamos de mostrar união e força para defendermos o património identitário da nossa terra, alicerçado na memória da lenda de um milagre, que é a nossa raiz enquanto comunidade”, afirmou António Caria dos Santos, representante do Movimento Cívico Pela Defesa do Promontório, que esta semana lançou uma petição a contestar as obras e a criticar o facto de o projecto não ter sido apresentado à população.
Segundo o representante, o movimento “nada tem contra as obras que servem para aumentar a segurança das pessoas e protecção dos bens”, contestando sim as “alterações estéticas projectadas na envolvente da Ermida da Memória e Bico da Memória, que vão alterar drasticamente aquilo que temos hoje como património da nossa cultura popular”.
Já o presidente da Associação Marés de Maio salientou que “a população quer ser esclarecida e prosseguir dois objectivos centrais: garantir a segurança de todos e a preservação do património”.
Nas palavras de João Delgado, “com projectos alternativos ao único que nos foi apresentado é possível congregar estes dois objectivos e alcançá-los”.
No local esteve também o presidente da Confraria de Nossa Senhora da Nazaré (CNSN), que caracterizou todo o processo como uma “trapalhada” da APA, que “apenas ouviu o parecer da Direcção-Geral do Património Cultural”.
Um parecer favorável, “mas condicionado”, já que as intervenções pretendidas “não consistem apenas na retirada do muro, mas também em construir um maciço em betão para fixar uma plataforma em aço”.
Nuno Batalha alertou também para o património arqueológico da Ermida da Memória e referiu que “das poucas informações que a APA disponibilizou, é possível perceber que, em termos de carga, esta consola aguenta cinco toneladas por centímetro quadrado”.
Por fim, apelou à união de toda a comunidade e à assinatura da petição, que reivindica que APA e Câmara Municipal da Nazaré “actuem em respeito das pessoas a quem servem” e prestem todas as informações sobre a obra em curso.
A petição reivindica ainda que seja aberta “ao debate público a ponderação dos critérios ‘não técnicos’, permitindo-se que, em salvaguarda da segurança e protecção das pessoas, sejam encontradas soluções que não firam a essência identitária do local e daquele património das gentes da Nazaré, do Sítio e do mundo”.