Sociedade

Portugal é o país com maior área de eucalipto

15 jul 2017 00:00

O eucaliptal à beira-mar plantado

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Jacinto Silva Duro

Ao contrário do que a tradição popular afirma, os barcos dos Descobrimentos foram construídos com os carvalhos das Serras de Aire e Candeeiros ou Sicó e não com árvores do Pinhal de Leiria. A vegetação autóctone, ou natural, de Portugal era constituída por espécies resistentes ao fogo e de crescimento muito lento, que protegiam os solos e as fontes de água, e ainda davam abrigo a milhares de espécies da fauna e flora.

Hoje, boa parte de Portugal é o chamado "deserto verde", dominado pela monocultura de eucalipto e pinheiro bravo, arredadas e destruídas que foram as antigas florestas por não terem interesse económico rápido e imediato.

O próprio Pinhal Interior, que hoje é um verdadeiro “Eucaliptal Interior”, foi fonte de muita madeira de carvalho e castanho para a construção das naus da Carreira da Índia. Depois de cortadas as árvores, nada foi replantado e ficaram as serras com as suas ossadas de pedra nua à mostra.

Quantos carvalhos eram necessários para construir uma nau? O biólogo da universidade de Coimbra Jorge Paiva lança um número: três a quatro mil carvalhos por nau. Cerca de duas mil naus num século. “Com as vias férreas, foram precisas travessas de madeira de negral ou de cerquinho para assentar os carris.

"Hoje, o Instituto Nacional de Estatística (INE) revela que Portugal tem 23% da sua área florestal entregue aos eucaliptos, ou seja cerca de 760 mil hectares. Só quatro países do mundo têm mais eucaliptal em termos absolutos do que Portugal: a China, que é 104 vezes maior do que Portugal, o Brasil, 92 vezes maior, a Austrália, 83 vezes maior, e a Índia, 36 vezes maior.

Resumindo, conforme sublinha o INE, em termos relativos, país algum do mundo tem uma superfície plantada de eucaliptos tão grande quanto Portugal. Com as populações a fugirem para as cidades do litoral em busca de emprego, deixaram o interior entregue aos idosos.

As terras deixaram de ser cultivadas e passaram a ser fonte de gasto em limpeza. A solução? Plantar eucalipto. A cada dez anos o eucalipto deva um pequeno rendimento. A cada 30 anos, após três cortes, os cepos tinham de ser arrancados e novos eucaliptos plantados.

Ao fim de quase 40 anos de eucaliptização, os proprietários começam a perceber que este arranque e replante custa tanto quanto o lucro que tiveram nas três década anteriores. A solução? Deixar ao abandono e permitir que o matagal e as mimosas e acácias se apoderem dos terrenos.

O discurso de que o eucalipto não arde sozinho e que é economicamente importante é conhecido e válido. A floresta, mesmo desorganizada e potencialmente perigosa, é lucrativa. Portugal exporta pasta e papel para 126 países.

Em Maio de 2013, o Jornal de Negócios referia que esta fileira valia 2122 milhões de euros e apresentava um dos mais elevados valores acrescentados: mais de 70%. Mas com os prejuízos provocados pelo incêndio de Pedrogão Grande a atingir os 500 milhões de euros – fora os custos em materiais de combate ao fogo, meios aéreos, custos logísticos e operacionais dos bombeiros e reflorestação -, não estará na hora de se fazer um debate sobre o real lucro desta indústria?

Doze medidas para tornar a floresta mais segura
Criar corredores de carvalhos, nogueiras, sobreiros ou cerejeiras nas bermas das estradas de Norte a Sul do País, para ajudar a travar os incêndios, é uma das 12 medidas apresentadas pela Quercus e pela Acréscimo na Assembleia da República.

A ideia é plantar estas árvores numa faixa de 20 metros para cada lado a contar da berma da estrada, extensível a 50 metros no caso das autoestradas, itinerários principais e vias rápidas.

Outras são o emparcelamento do minifúndio e a obrigatoriedade de plantação de espécies de baixa combustibilidade, tornando obrigatório que 20 % da área florestal seja ocupada com folhosas, e a responsabilização criminal de quem venha a desenvolver acções de (re)arborização sem licenciamento, no caso de espécies de rápido crescimento, como eucalipto e pinheiro.

As associações propõem também o regresso de uma força de fiscalização semelhante à Guarda Florestal com efectivos, meios e orçamento próprios, capaz de verificar se as normas estão a ser cumpridas e penalizar os infractores.