Sociedade
Preconceito mantém moradores de bairros sociais à margem
Nem todos os bairros sociais têm más condições para viver mas, em comum, existe o sentimento de isolamento, fruto de um preconceito que continua a existir
Porque são de etnia cigana e carregam consigo o peso de uma história que leva anos e séculos a ultrapassar. Outros porque foram alojados em locais isolados que, de tão distantes, caíram no esquecimento de quem manda nas cidades onde se encontram. Uns e outros querem apenas melhores condições de vida
Uma parte dos bairros sociais da região foi construída em lugares ermos, escondidos, como se o mundo se envergonhasse de quem lá vive. Estão distantes dos centros das cidades, sem quaisquer equipamentos de apoio, sem transportes públicos.
São vistos como locais arriscados por quem os olha de fora. Quem os vive por dentro pede mais e melhores condições. Mas, acima de tudo, tem esperança de vir a ser tratado “sem paternalismos, com dignidade, como cidadãos de plenos direitos e deveres”.
Mário Marques, 48 anos, residente no Bairro da Bela Vista, em Alcobaça, tem o cemitério como paisagem privilegiada. Com 24 apartamentos, o bairro foi construído em 2006 para realojar a comunidade cigana que então vivia em barracas na zona da Gafa, no centro da cidade.
Pastor da Igreja Evangélica Filadélfia, Mário Marques é pai de oito filhos, alguns ainda menores. Já tem netos. Nasceu cigano e é com orgulho que representa a sua etnia sempre que é chamado a intervir, seja na escola seja na PSP – quando há um desacato que envolva um dos seus – ou em qualquer outro momento fora do bairro.
“As nossas casas têm condições muito boas e estamos muito melhor do que em barracas”, reconhece Mário Marques. Muito respeitado na comunidade, lamenta, contudo,
que as pessoas identifiquem, “de forma depreciativa, aquele como o “bairro dos ciganos”, como se ele não tivesse identificação.
É o mesmo que acontece com as pessoas. “Todos temos nomes e apelidos. Temos orgulho em ser ciganos… mas quando há um crime ou um qualquer acto praticado por alguém da minha etnia, os ciganos não são todos culpados.”
Leia mais na edição impressa ou faça registo e descarregue o PDF gratuitamente