Economia

Produção de Maçã de Alcobaça sofre quebra inédita e há menos pêra rocha

27 nov 2020 11:32

A maior quebra de sempre na produção de Maçã de Alcobaça vai provocar um aumento do preço no consumidor. A pandemia está a gerar dificuldades de valorização da pêra rocha no Brasil

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Entre 25% e 35% de quebra na última colheita
Ricardo Graça

O balanço das colheitas no Oeste coloca os fruticultores a suportar quebras de 35% na pêra rocha e acima de 25% na Maçã de Alcobaça, com a actividade prejudicada pela meteorologia adversa.

Na campanha de produção 2019/2020 da Maçã de Alcobaça regista-se “a maior quebra de sempre” e também “a mais generalizada”, perspectivando-se um aumento do preço da fruta nas prateleiras dos hipermercados e uma diminuição das quantidades exportadas.

Jorge Soares, presidente da Associação dos Produtores de Maçã de Alcobaça (APMA), fala de um desenvolvimento “atípico” dos frutos, “mais lento e menor”, provocado por um Inverno “que não teve o frio normal”, cenário agravado por “dois dias de temperaturas muito altas, a rondar os 40 graus”, nas semanas anteriores à colheita.

“Esperávamos a melhor produção de sempre, esperávamos 60 milhões de quilos de maçã certificável com o selo Maçã de Alcobaça. Neste contexto, podemos não chegar aos 45 milhões de quilos”, adianta ao JORNAL DE LEIRIA. Ou seja, 45 mil toneladas.

A quebra na campanha de produção 2019/2020 está “acima dos 25%” e “abaixo dos 30%”, logo, a Maçã de Alcobaça será mais cara “15 a 20%” para que os produtores possam “recuperar uma parte” e “os consumidores não fiquem demasiado penalizados”, explica Jorge Soares, que vê o ajuste no preço facilitado pela “boa relação” com as grandes empresas de distribuição no mercado português.

“Temos esperança que o nosso volume de negócios fique próximo dos 50 milhões de euros”, antecipa o presidente da APMA sobre o encaixe a decorrer até à próxima Primavera.

Se as lojas em território nacional já eram a prioridade, a produção destinada a exportação – 25% na campanha anterior – deverá atingir “no máximo, 5%” e “só para alguns canais de distribuição que já são clientes, nos países árabes e, principalmente, no Brasil”, esclarece Jorge Soares.

As 20 organizações associadas da APMA representam quase 500 empresas produtoras numa faixa de 14 concelhos entre Torres Vedras e Leiria, que desde Fevereiro estão a suportar custos acrescidos, devido à crise pandémica. A área de produção é de 2 mil hectares e no pico da colheita trabalham 4 mil pessoas.

130 mil toneladas de pêra rocha

A campanha de Pêra Rocha do Oeste 2019/2020 regista uma quebra de 35%, influenciada sobretudo por condições meteorológicas menos favoráveis, com a produção a baixar para 130 mil toneladas, segundo Domingos dos Santos, presidente da Associação Nacional de Produtores de Pêra Rocha (ANP).

Confirma-se, assim, o decréscimo previsto pelos produtores no arranque da colheita, em Agosto. Domingos dos Santos explica que “o Verão de 2019 muito quente até tarde” e “o Inverno com poucas horas de frio abaixo de sete graus”, antes de uma “Primavera húmida” e com “temperaturas baixas”, provocaram “floração escalonada” e “dificuldades de vingamento”.

A denominação de origem protegida está circunscrita a 29 concelhos da região entre Mafra e Pombal e em média as quantidades exportadas correspondem a 60% da produção. Entre Janeiro e Novembro de 2019, as exportações renderam 90 milhões de euros. Brasil, Reino Unido, França, Alemanha e Marrocos são os cinco maiores compradores além-fronteiras.

Os efeitos da Covid-19 sentem-se no mercado externo mais relevante, o Brasil, com os impactos económicos a originarem “alguma dificuldade de valorização” da Pêra Rocha do Oeste, diz o presidente da ANP.

Também no plano internacional, o processo de negociação entre governos com o objectivo de abrir a exportação para a China encontra-se “em stand-by, em virtude da situação pandémica que estamos a viver”, refere Domingos dos Santos.

Já este mês, o Parlamento Europeu aprovou o acordo entre a União Europeia e a China que deverá entrar em vigor em 2021 e protege a denominação de 200 indicações geográficas alimentares europeias e chinesas da contrafacção, incluindo a Pera Rocha do Oeste, contra o uso indevido do nome e imitação na China.

Com cinco mil produtores associados e uma área de produção de 11 mil hectares, a ANP estima que na última colheita, terminada na segunda semana de Setembro, terão participado cerca de 12 mil trabalhadores temporários.