Sociedade
Reserva estratégica de água contaminada
Ourém, Maciço Calcário Estremenho e Caldas da Rainha-Nazaré
Da massa total de água que existe no nosso planeta, 97% é salgada. Os restantes 3% são de água doce, que se dividem por 30,8% de água no subsolo e 68,9% em gelo polar, glaciares e 'permafrost'. A água de superfície, de rios, albufeiras e lagos, compreende apenas 0,3% da água doce.
Perante este cenário, a existência de uma grande reserva de água doce, sob o queijo suíço calcário das serras de Aire e Candeeiros, também chamado Maciço Calcário Estremenho, reveste-se de grande importância para a região.
As serras, situadas entre as cidades de Alcobaça, Rio Maior, Tomar e Leiria, integram o Sistema Montejunto- Estrela e são um grande bloco de calcários jurássicos com cerca de 160 milhões de anos, que serve como reservatório subterrâneo.
É uma das maiores reservas nacionais de água doce, se não a maior, a par da serra da Arrábida, mas não é invulnerável à poluição das águas fósseis dos seus rios, algares e zonas profundas.
Embora adormecidas nas entranhas da Terra, estas têm vindo a ser contaminadas com metais pesados e substâncias contaminantes, fruto de décadas de agricultura, exploração pecuária e de pedreiras, tratamento defeituoso ou despejo directo de efluentes humanos.
É um enorme “lago”, com cerca de sessenta e cinco mil hectares e centenas de metros de profundidade, alimentado principalmente por águas pluviais. A chuva, que se infiltra rapidamente no subsolo, forma ribeiras subterrâneas, restituindo depois o excedente à superfície, formando nascentes cársicas.
Exemplo destas são os Olhos de Água do rio Alviela, onde existe uma captação da EPAL para fornecimento de água a Lisboa desde 1880, e a nascente do rio Lis, que é usada para matar a sede da cidade do Lis.
Esta semana, porém, a Zero – Associação Sistema Terrestre Sustentável, que analisou a qualidade das águas subterrâneas, alertou para o facto de que, em plena seca, 55 dos 62 sistemas aquíferos de Portugal continental estarem poluídos com azoto amoniacal e nitrato, provenientes das explorações pecuárias.
Em comunicado, o organismo independente classifica a situação como “preocupante”, afirmando que a “poluição generalizada é a norma” e sublinha que os aquíferos de Ourém, Maciço Calcário Estremenho, Louriçal, e Caldas da Rainha-Nazaré, registam “excedências recorrentes ao valor máximo admissível”.