Sociedade

Salvato Feijó, director clínico do Centro Hospitalar de Leiria: “O meu maior medo é não ser capaz de dar resposta por não ter meios”

28 jan 2021 10:15

O director clínico do Centro Hospitalar de Leiria diz que, nesta fase, o hospital ainda "está completamente à superfície", mas teme pelo dia em que não consiga dar reposta.

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Maria Anabela Silva

Qual a palavra que melhor descreve o que se está a passar no hospital?
Corrida... Estamos numa corrida contra o tempo pandémico, no sentido de ganharmos algum avanço face à evolução epidemeológica. A situação é muito grave. Neste momento [sexta- feira, dia 22] temos 206 camas afectas a doentes Covid. O primeiro passo do nosso plano estratégico passou por, face à estrutura física do hospital, definir de uma torre Covid e outra não Covid. Felizmente, o Hospital de Santo André tem esse desenho arquitectónico, que nos permite fazer uma separação adequada entre a área onde estão os doentes covid e o espaço onde se encontram os restantes. Neste momento, a torre nascente está afecta à Covid. Aí, temos dez camas de cuidados intensivos só para doentes Covid e as restantes em enfermaria. Junto ao Serviço de Urgência, criámos, inclusive, uma UCAP [Unidade de Cuidados Agudos Polivalente] com 20 camas. Fomos também forçados a integrar o hospital de Alcobaça neste combate. Nunca esteve nas nossas intenções, mas a evolução pandémica obrigou a afectar também parte da unidade de Alcobaça [Serviço de Medicina Intenta] a doentes Covid.

Desde Novembro, o CHL duplicou o número de camas para doentes Covid. Ainda há margem para aumentar essa capacidade, atendendo a que esse crescimento tem de ser acompanhado de recursos humanos?
A nossa porta está aberta 24 sobre 24 horas e servimos uma área com cerca de 400 mil habitantes. Logo, não podemos estabelecer um tecto, até porque todos os hospitais à nossa volta estão com os mesmos problemas. O funcionamento em rede nestas circunstâncias é difícil. Há poucas camas disponíveis para transferirmos doentes. Mesmo assim, já temos doentes Covid-19 numa estrutura na Marinha Grande [Santa Casa da Misericórdia], onde se encontram 13 pacientes, ao abrigo de um protocolo, que prevê a utilização de camas de nível I (enfermaria) para doentes sem alta clínica oriundos do CHL, que são geridas pela Unidade de Hospitalização Domiciliária, de forma a libertar camas para os doentes mais críticos. Conseguimos agora um acordo semelhante com uma estrutura em Porto de Mós e temos necessidade de recorrer a outras unidades fora do hospital, dos sectores social e privado, para nos receberem doentes não Covid.

É médico há 40 anos. Alguma vez, viu os hospitais numa situação semelhante?
Não. O que estamos a viver nos hospitais não tem comparação com nenhum outro tempo. É uma experiência que espero única, embora a probabilidade de que não venhamos a ter outras pandemia seja muito baixa. Em 40 anos de medicina, nunca fui confrontando com nada igual, nem sequer parecido.

Os profissionais de saúde têm mostrado que podem fazer sempre mais um pouco. Mas há limite. Estamos perto de o atingir?
Na corrida contra o tempo pandémico, umas vezes a pandemia vai à frente e nós temos de recuperar o atraso, outras conseguimos estar um passo à frente. Nas últimas semanas, no CHL conseguimos ir dando passos à frente e, até agora, nunca tivemos nada tão catastrófico como vimos noutros hospitais, com filas de ambulâncias para os serviços de urgência ou doentes a serem atendid

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