Viver
Um Mundo à parte
Porquê o Paquistão? Após ter visitado o Irão, percebi que por vezes os media pintam o mundo a preto e branco, quando na prática não é bem assim. Somos completamente manipulados e deixamo-nos influenciar pelo que ouvimos.
Parecemos umas marionetes anérgicas, julgando as pessoas ou o próprio país de uma forma desmerecida e injusta. Aliás, nem temos tempo de julgar seja o que for. É-nos impingido acreditar em preconceitos que rotulam certos países como vinho das piores castas possíveis e imaginárias, sem nunca termos provado. É o efeito dominó dos media sobre a humanidade.
O Irão é perigoso. O Paquistão é perigoso. O Afeganistão é perigoso. Todos estes países acabados em “ão" são perigosos. Ousadia ou petulância, a atitude mais correta é fazer como São Tomé. “Ver para crer”.
Fascina-me o facto de não conhecer ninguém que tenha visitado este país. Assim sendo, vou sem nenhuma ideia formada. Cada viagem é diferente. Cada viagem tem uma história e esta é a minha história…
Chego ao aeroporto de Lahore e, apesar da simpatia dos polícias da alfândega, sou questionado durante uns 15 minutos sobre o porquê de visitar este país. Não é muito comum alguém visitar o Paquistão e talvez daí a curiosidade.
Saio do aeroporto e pergunto a um taxista se conhece a pousada para onde quero ir e ele diz que sim. A verdade é que ele não conhecia bem onde ficava e estive quase uma hora com ele à procura. Depois de encontrar a pousada numa rua escondida no meio do nada, posso dizer que foi a noite mais barata onde alguma vez estive. Um euro e sessenta cêntimos.
O Paquistão é sem dúvida um mundo à parte. Longe de tudo e de toda a tecnologia, vemos as crianças a brincarem nas ruas, mesmo chovendo. Há uma mistura de indianos e muçulmanos nos rostos dos autóctones.
A verdade é que estamos a 40 quilómetros da Índia, perto da zona de Caxemira. As pessoas são bastante curiosas e quando me viam com uma máquina fotográfica também queriam uma fotografia. O mais curioso é que ninguém conhecia Portugal, mesmo eu falando do Cristiano Ronaldo.
Ficavam pasmados a olhar para mim. Os nativos são bastante simpáticos e há sempre um sorriso puro e um acenar de mãos quando passamos. Quer queiramos, quer não, somos diferentes no tom de pele e no vestir, acabando sempre por dar nas vistas.
A cidade de Lahore tem o seu encanto. Por um lado, temos ruas completamente loucas, onde burros e bicicletas transportam todo o tipo de mercadoria. As ruas parecem labirintos e é muito fácil perdermo-nos.
Por outro lado, temos o forte de Lahore e a lindíssima mesquita de Badshahi, que são sem dúvida um contraste enorme com aquelas ruas afuniladas, onde constantemente temos de estar atentos, para não sermos atropelados por bicicletas e pela multidão.Um autêntico caos, esta cidade. Vendedores, motorizadas e carroças a serpentearem entre a multidão.
Infelizmente há muita pobreza. Vêem-se imensas crianças e mulheres a dormir na estrada. Alguns polícias interpelavam-me, sempre com um sorriso puro e ingénuo. Não havia segundas intenções. Apenas me queriam conhecer. Tomar banho na pousada acabou por ser engraçado. A casa de banho não tinha chuveiro.
Apenas uma torneira e um pequeno balde, que mais parecia uma malga de sopa. Enchia a tal malga e deitava água pelo corpo abaixo. Um processo lento e divertido numa casa de banho minúscula, onde quase não me conseguia mexer.
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Rui Daniel Silva
Texto escrito de acordo com a nova ortografia