Opinião

A peneira que tapa o Sol

5 fev 2021 15:04

Não vale a pena tapar o Sol com uma peneira tão cheia de buracos como a vida à deriva, sem orientação ou exemplo, só culpa, culpa e culpa dos portugueses por parte de quem os devia conduzir pela mão até a um sítio seguro.

Será que se tornou assim tão difícil medirmos a real escala das coisas?

Compreender que uma medida mal medida do Estado ou de alguém com poder faz muito mais mossa do que o copo de vinho servido clandestinamente num postigo duma colectividades de aldeia?

Porque é que a uma generalização de um facto (o optimismo de Marcelo e de Costa relaxa mas mata) sempre se responde: “Pois... é fácil culpar o Governo, mas as pessoas...”

E o que têm feito as pessoas, na sua grande generalidade?

Aqui em Alcobaça já não se vê quase ninguém sem máscara na rua. Muito menos nos (poucos) sítios onde ainda podemos ir, para fazer e comprar o mínimo dos mínimos.

O Governo não equipa hospitais, não gere, nem recompensa devidamente as carreiras dos médicos e enfermeiros, mas o “problema” é a festa de não sei quem, ou os familiares que subiram no elevador, todos os sete, e mesmo que fossem vinte, será que esse é um maior problema do que a falta de camas, de material humano, logístico e decisões atempadas e não só reactivas, mas proactivas, mesmo correndo o risco de se perder poleiro?

Ou estarei errado em pensar que é errado castigar ainda mais “o povo”, atribuindo ao seu comportamento a total responsabilidade pelo contágio e pelo caos em que mergulhámos?

Quererão os políticos convocar eleições antecipadas para nos mandarem embora?

Para elegerem um povo melhor?

Serei burro em pensar que quem sacode assim a água do capote, não está qualificado para gerir uma crise destas e que não fomos nós que espetámos o barco contra as rochas?

Não vale a pena tapar o Sol com uma peneira tão cheia de buracos como a vida à deriva, sem orientação ou exemplo, só culpa, culpa e culpa dos portugueses por parte de quem os devia conduzir pela mão até a um sítio seguro.