Opinião
Vai-lhes correr tudo bem - 1
A nível de exposição, o humor tem muito mais tempo de antena nas rádios, TV e publicidade que a música que se tornou acidental e obrigatória por lei (!).
Existem três actividades às quais, tudo lhes vai correr bem.
O Humor, o Gaming, e a Banca.
O futuro da cultura é o humor.
Distinções alta/baixa cultura evidenciam apenas o desaparecimento (mais que) gradual de várias formas de cultura.
Comparada com o humor, muita da cultura tem despesas a mais.
O humor que domina é unipessoal: um homem, um microfone, uma barba. Não precisa propriamente de pirotecnia, de guitarras customizadas.
Na música, há exigências técnicas que não existem no humor.
Se um artista musical fizer um vídeo sem HD os fãs torcem o nariz.
Se um humorista fizer um vídeo do telemóvel, desde que tenha graça, o que interessa a qualidade?
O humor é transversal.
A cultura compartimentou-se.
O humor enche salas com muito menos esforço que uma banda, a preços idênticos e menor despesa para o promotor.
Se for produção própria, a margem de rentabilidade é largamente superior à da música.
A nível de exposição, o humor tem muito mais tempo de antena nas rádios, TV e publicidade que a música que se tornou acidental e obrigatória por lei (!).
Ter graça está muito mais na moda, é muito mais acarinhado, muito mais pertinente socialmente.
Preenche exactamente aquilo que o público moderno quer: ser entretido.
Se não se gostar de música, uma pessoa pode até ser acusada de não ter alma ou coração. Mas à luz dos dias de hoje, isso é menos grave do que não ter humor.
O humor bate todos os recordes de plateia. Ser músico é um sonho ingénuo numa (agri)cultura de pousio. O nosso lado está seco e duro. O campo do humor floresce.
A música está para o humor como o museu está para o centro comercial.
O fã das bandas tem de sair pela loja de souvenirs.
Os fãs de humor nem tem de comprar nada.
É tudo de “borla”, até que olham para o cartão de crédito no fim do mês e fazem as contas às coisas que foram comprando “under the influence”.
Não estou a fazer juízos de valor.
Mas, admito que a música perdeu centralidade na vida das pessoas.
É uma comodidade, servida de forma gratuita.
A maior parte das pessoas não paga por música, nem tem vergonha de o admitir.
Mas a maioria das pessoas quer, e muito, rir.
Sinais do tempo.
De como “participar” num fenómeno social é muito mais importante para a pessoa “comum”, do que estar em casa a ler Jean Genet, ir ao teatro ver Beckett ou entender os floreados progressivos do “post-rock”.
O resto é conversa.