Editorial

A saga dos trabalhos a mais

8 jul 2021 17:19

As obras começaram a 18 de Novembro de 2019 e as expectativas lançadas eram altas

De uma assentada, a Câmara Municipal de Leiria propunha-se transformar a Avenida Nossa Senhora de Fátima – uma das artérias emblemáticas da cidade – num exemplo de mobilidade e modernidade.

Para justificar o investimento de 2,4 milhões de euros, foi apresentado um projecto com metas ambiciosas: “Mais ambiente; melhor mobilidade; mais conforto; melhor estacionamento; melhor mobiliário urbano; mais tecnologia; melhor saneamento”, anunciou, na ocasião, a autarquia.

Nas palavras do vereador das Obras Municipais e Requalificação do Espaço Público, aquela zona passaria “a ser certamente uma das mais atractivas da cidade, dada a intervenção de grande qualidade” que iria ser realizada.

Como os trabalhos estão ainda longe de ficar concluídos, prevalece o benefício da dúvida quanto aos resultados finais desta intervenção. Já no que respeita ao processo de execução da obra, por enquanto, são mais as dúvidas do que os benefícios.

O prazo previsto para finalização dos trabalhos (Julho de 2021) vai ser claramente ultrapassado e o orçamento inicial conta já com duas adendas (leia-se trabalhos a mais), que vão custar aos cofres do Município pelo menos mais 1,1 milhões de euros.

A explicação para esta derrapagem, dada pela Câmara, prende-se com a alegada “desactualização do cadastro das infra-estruturas que serviu de base para a elaboração do projecto inicial” e, entre outras inconformidades, com a constatação de “deficientes condições geotécnicas do solo, que não foram devidamente caracterizadas em toda a extensão aquando dos ensaios em fase de projecto”.

É consensual que em ruas mais antigas, como a Nossa Senhora de Fátima, o mapa das infra-estruturas enterradas poderá não ser o mais perfeito e completo, fruto de intervenções mais ou menos anárquicas ao longo de décadas.

O que não parece tão consensual é que se avance para uma obra apresentada como exemplo para o futuro da requalificação urbana, sem um estudo técnico aprimorado.

Resultado: um caderno de encargos omisso, um projecto a necessitar de alterações, um empreiteiro a esfregar as mãos de contente por poder facturar mais e os moradores e comerciantes a desesperar com o que já classificam como as “obras de Santa Engrácia”.