Opinião

A última oportunidade da Europa

19 abr 2025 16:22

A Europa continua atolada em burocracia, fragmentação e timidez estratégica. No campo da competitividade, os mercados europeus continuam desarticulados

Em tempos de transição, é fácil perder o rumo. A Europa está novamente nesse limiar – uma encruzilhada onde o caminho da união se cruza com o da irrelevância. O relatório de Draghi, apresentado em 2024, deveria ter sido um murro na mesa. Foi, pelo contrário, um espelho colocado diante de um continente que insiste em desviar o olhar.

Demografia, inovação, competitividade e defesa – 4 pilares que sustentam não apenas a arquitetura do projeto europeu, mas a sua sobrevivência. E todos eles estão a ceder. A demografia avança implacável. A Europa envelhece e encolhe. A Coreia do Sul já iniciou o seu declínio populacional; o Japão está mais velho do que alguma vez previmos; e nós seguimos o mesmo trilho, apenas com algum atraso.

A OCDE já anunciou que, até ao fim do século, a idade da reforma terá de subir cinco anos. Mas como dizer isso a uma maioria eleitoral que vive do sistema que já não conseguimos financiar? Como convencer países em choque cultural com a imigração que essa mesma imigração é a sua única tábua de salvação?

Na inovação, os números falam mais alto do que os discursos de comissários europeus. Das 50 maiores empresas tecnológicas do mundo, apenas quatro são europeias. O velho continente continua a produzir ciência de qualidade, mas falha sistematicamente em fazer a transição das ideias para o mercado.

Enquanto isso, as empresas americanas e chinesas dominam os ecossistemas globais – com os EUA a subsidiarem massivamente os seus campeões tecnológicos e a China a comprar o Sul Global a prestações.

Em contraste, a Europa continua atolada em burocracia, fragmentação e timidez estratégica. No campo da competitividade, os mercados europeus continuam desarticulados. Não temos uma verdadeira união bancária, nem um mercado único digital, nem um sistema fiscal coerente. Competimos com blocos que operam com escala continental, mas respondemos com políticas desenhadas à escala nacional.

O resultado é previsível: ineficiência, perda de tração, dependência. E a defesa, esse tema tabu, ganhou nova urgência com a guerra na Ucrânia. A Europa revelou, mais uma vez, a sua fragilidade militar e estratégica. Depende dos EUA para proteger as suas fronteiras, mesmo quando os EUA se viram cada vez mais para dentro – como o têm mostrado as recentes políticas de tarifas de Trump. A resposta? Mais Europa – mercados integrados, fundos comuns de capital de risco, política de defesa comum.

Cidades como Leiria assistem a esta transformação com alguma proatividade – apostando em automação, software, inteligência artificial – não apenas porque são tendências, mas porque são os únicos caminhos viáveis num mundo onde a escala deixou de ser física e passou a ser digital.

A Europa tem agora uma última oportunidade. A próxima década pode ser a de um novo renascimento económico e político. Mas isso exigirá escolhas difíceis: abdicar de parte da soberania nacional para construir uma soberania comum europeia, investir em setores de futuro e deixar cair ilusões de autossuficiência nacional.

O protecionismo não é a resposta – foi o erro dos anos 30, e pode ser o desastre dos anos 30 do século XXI. Ou fazemos mais Europa, ou deixamos de contar. 

Texto escrito segundo as regras do Novo Acordo Ortográfico de 1990