Opinião
Alcatrão e outros embustes
Ao usar o velho truque de alcatroar à pressa as ruas e avenidas mais importantes da sede do concelho, quando estamos a dez meses das eleições autárquicas, o presidente da Câmara de Leiria demonstra que tem os leirienses em pouca conta.
Mesmo conhecendo bem as limitações de liderança do atual presidente da Câmara de Leiria, fiquei surpreendido com a entrevista do seu antecessor, Raul de Castro, em que lhe dá nota negativa e se confessa desiludido, quer com o desempenho, quer com a pessoa.
Castro, franco e honesto, foi demolidor ao ponto de concretizar acusações gravíssimas de gestão danosa, na medida em que, a ser verdade que os prédios da Heróis de Angola estejam na eminência de ruir, a intervenção que foi feita, descurando esse perigo, ao que parece cientificamente comprovado, pode até configurar um ato criminoso.
Na verdade, a propaganda sistemática da Câmara tem, apenas, como propósito esconder que quase tudo vai mal em Leiria, seja o caos no trânsito, seja a incapacidade de resolver ou sequer influenciar a resolução do problema das suiniculturas e do cheiro nauseabundo com que, recorrentemente, somos brindados na cidade, seja a incapacidade para desbloquear a velhíssima questão da linha do Oeste.
O novo presidente da Câmara de Leiria, para se vangloriar, acabou por revelar que, afinal, o seu empenho, em prol da abertura da base aérea de Monte Real à aviação civil, não passa de uma mentira.
Aliás, o assunto foi, largamente, noticiado pela comunicação social local, que deu eco à afirmação da ministra da Coesão Territorial que afirmou, em visita recente a Leiria, que não vira nenhum estudo sobre a necessidade da abertura da Base Aérea de Monte Real à aviação civil.
Perante esta afirmação da ministra, o atual presidente da Câmara de Leiria disse, pomposamente à governante, que a opção do aeroporto em Monte Real é «baseada num estudo que sustenta esta opção».
Ou seja, o presidente da Câmara anda, há mais de um ano, a dizer aos leirienses que tudo faz em prol da abertura da Base Aérea de Monte Real à aviação civil, fazendo crer que se esforça por influenciar a decisão a favor de Leiria, e nem sequer entregou à ministra da Coesão Territorial o estudo que a Câmara de Leiria tem em seu poder, pelo menos desde 2018, e que foi pago pela própria, juntamente com a Câmara da Marinha Grande.
Em suma, gastou uma fortuna num estudo e guardou-o na gaveta.
Tudo leva a crer que o presidente da Câmara acha que um novo aeroporto na zona centro nada tem a ver com coesão territorial.
Porventura, achará também que um assunto desta envergadura e importância é tratado por SMS e que os leirienses já se esqueceram da gabarolice infantil de ele próprio ter enfatizado uma SMS do ministro Pedro Nuno Santos, informando-o de que podia estar descansado que o aeroporto na zona centro não iria para Coimbra.
Enquanto isto, temos um concelho mergulhado em problemas gigantescos, gerido por uma máquina de propaganda que, para disfarçar a sua incompetência e total falta de visão, até recorre ao velho truque do alcatrão a metro.
Ao usar o velho truque de alcatroar à pressa as ruas e avenidas mais importantes da sede do concelho, quando estamos a dez meses das eleições autárquicas, o presidente da Câmara de Leiria demonstra que tem os leirienses em pouca conta.
Texto escrito segundo as regras do Acordo Ortográfico de 1990