Opinião
Atenção à muito alta tensão em Leiria
Investir horas a exercer a cidadania activa e tentar fazer de Portugal um país melhor? Que ideia absurda
Terminou ontem o prazo de discussão pública sobre o Estudo de Impacte Ambiental do projecto de uma linha de muito alta tensão que, no corredor previsto no sector do distrito de Leiria, engloba Leiria, Batalha, Porto de Mós e Caldas da Rainha. Vem de Sul, de Rio Maior, sendo que são ao todo 72 km de traçado, parte dele através do Parque Natural da Serra de Aire e Candeeiros.
Este facto passou despercebido à esmagadora maioria da população. Não me surpreende, já que a participação pública em Portugal é tradicionalmente fraca. O pessoal não está para se maçar, já que prefere chatear-se quando a obra já está a iniciar. Aí já são raios e coriscos e a revolta e indignação visíveis, embora de nada valha.
Costumo participar regularmente neste tipo de discussões públicas, dando o meu contributo enquanto cidadão e/ou enquanto técnico. Confesso que fico surpreendido como é que um projecto desta magnitude não faz alguns milhares de pessoas desligar a televisão por umas horas para analisarem os documentos, de forma a tentar perceber se o projecto faz sentido e se o Estudo de Impacte Ambiental tem falhas.
E quem não percebe pergunta a quem sabe, simples (ou não...). Afinal de contas é algo que tem o potencial de alterar vidas de centenas de milhar de pessoas. A cultura portuguesa, do deixa andar, assim o obriga. Perder horas a ver lixo televisivo? Claro que sim! Investir horas a exercer a cidadania activa e tentar fazer de Portugal um país melhor? Que ideia absurda, pensam tantos! Foram poucas centenas a mexer-se.
Mas vamos a uma questão fundamental, a quem interessa desvirtuar ainda mais este território com a desculpa esfarrapada da dita descarbonização e das energias renováveis? Faltam telhados e paredes nesta região? Micro geração local, conhecem? Porquê criar mais infraestruturas quando já as temos? Porque é que a produção local de energia nos lares de cada um de nós não é uma prioridade? O interesse público não devia ser genericamente falando da população em vez de empresas?