Opinião

#Beijos suspensos

26 jul 2024 11:20

No encontro com as artes nunca ficamos iguais na partida, ao que éramos no quando chegámos

Se as artes existem com vontades próprias, só por que sim, ou por um conjunto de significados que ora nos fazem pensar, ora em uníssono ora em tensão, é mais ou menos consensual, ou gerador de dissenso, que muitas vezes afastando, são também um pólo agregador de pessoas. Ou pelo menos tantas e tantas vezes ponto de partida feito pretexto para o encontro, para a abertura ao outro e para uma criação conjunta de sentidos.

Não tem de haver um certo ou um errado, e por isso pode haver lugar a dispariadades no pensamento e na forma de estar, e isso até é saudável e desejável, mas há, ou devia haver sempre um lugar seguro, para cada pessoa ser e pensar o que quiser e questionar-se se assim for a sua vontade, as vezes que quiser, sobre e no processo.

Este texto que hoje parece estar cheio de ambiguidades ou como se diz por aí, dá uma no cravo outra na ferradura, serve para pensar nas artes como espaços para a liberdade e para o questionamento, para quem as quiser desta forma, ou rigorosamente para nada se for esta a vontade do seu autor ou do seu fruidor… e esta possibilidade de ser, ou não ser, pode ser altamente libertadora.

Uma coisa é certa, no encontro com as artes nunca ficamos iguais na partida, ao que éramos no quando chegámos. Há sempre algo nas artes que se acrescenta às pessoas e que lhes soma ora um grão de areia, ora uma praia inteira de transformação, de questionamento, de estranheza, de beleza, ou de espanto e que deixa a areia que entendermos, tantas vezes mais do que o que esperávamos a sedimentar ou em agitação na pele e no pensamento.

Decorreu durante esta semana, na Livraria Arquivo, o projeto internacional com génese em Itália Baci Sospesi. Materializado em escultura e retratos áudio, partiu da inquietação da sua autora Barbara Sbrocca, em tempo de confinamento, mas dedica-se a juntar pessoas e a pensar nas questões dos encontros e desencontros e nos afetos que tantas vezes ficam em suspenso fruto de separações inusitadas ou de afastamentos forçados.

Assim durante uma mão cheia de dias, desafiados pelo escritor Paulo Kellerman e pelo Núcleo de Leiria da EAPN, artistas diversos, nas suas linguagens múltiplas, que iam da escrita, ao teatro, performance, arquitetura, fotografia, ou cruzamentos disciplinares, juntaram-se em residência artística, para pensarem juntos e em co-criação a urgência dos encontros, dos abraços e do libertar de “beijos” suspensos.

Momentos à flor da pele, materializados num conjunto de obras que estarão disponíveis para venda até domingo na Livraria Arquivo. O valor resul-tante da aquisição das obras reverterá para a EAPN. Sintam-se convidados a passar por lá.

Texto escrito segundo as regras do Novo Acordo Ortográfico de 1990