Opinião

Campanha, como?

14 mar 2024 16:17

Resta-me concluir que os candidatos à governação não sabem como expor as suas ideias

Agora que acabámos de eleger um Governo, terminou, finalmente, um longo período de pequenos insultos, de denegrição de imagem pública e até pessoal, de escárnio e maldizer de opositores, e da pequena mentira a tentar baralhar os incautos.

Pergunto-me a quem aproveita esta forma de cada um vender o seu peixinho e continuo sem resposta já que, creio, os filiados votarão fielmente no seu partido seja qual for o discurso do líder, e os simpatizantes, de ocasião ou de longo prazo, inclinar-se-ão para a personagem ou para a cor política da sua preferência, independentemente da performance mais ou menos agressiva do candidato; quanto aos indecisos, poucos serão, espero, os que se decidem por conta da maior truculência exibida, sendo que mais depressa se apanham moscas com mel do que com fel, diz o ditado.

Resta-me concluir que os candidatos à governação não sabem como expor as suas ideias sem o expediente, tão básico, de desancar nas ideias e nas acções passadas dos seus oponentes, e se assemelham a adolescentes em guerrinhas do diz-que-disse e olhem-lá-o-que-ele-fez. É um comportamento maçador, infantil e irritante.

Os períodos de campanha eleitoral, sobretudo desde que se começaram a estender pela pré-campanha, são geralmente olhados com cansaço e desinteresse pela população a que a eles assiste. Os comícios, as arruadas e as visitas a mercados, feiras e escolas, são com toda a certeza interessantes, alegres e motivadores para os directamente envolvidos, mas para mais ninguém. Não conheço quem, e de entre diferentes escolhas políticas, não tivesse já esgotado a paciência para telejornais a rebentar de campanha eleitoral feita com essas actividades, mais as alfinetadas e os discursos pouco simpáticos sobre os adversários.

As campanhas eleitorais precisam de existir para esclarecer intenções e apresentar um projecto, e não para tentar arrebanhar votos de qualquer maneira; é aí que assenta a civilidade e a escolha informada. Para isso são os debates, sérios e interessados em esclarecer, inteligentes e com explanação de ideias, com detecção de problemas e apresentação de propostas estudadas com seriedade, para médio e longo prazo. Troca de ideias em conversas televisivas, mas também em pequenas comunidades, em pequenos círculos.

O pensamento, portanto, a conduzir a decisão. Sendo o bem comum o que é benéfico para uma maioria ou, idealmente, para toda uma comunidade, só a informação transmitida de forma clara, completa, esclarecedora e tranquila, pode interessar ao serviço da comunidade, sejam quais forem as ideias, as propostas, e as soluções a apresentar.

Já ganhámos a ausência dos cartazes que costumavam inundar as cidades e que para nada serviam; seria bom ganharmos agora a ausência de gritaria, de panfletos repetidamente deixados na caixa do correio, e da distribuição de saquinhos, esferográficas e bonés, que ainda vai acontecendo. Nada de propaganda, portanto. Apenas as ideias de cada um, veiculadas com seriedade, sossego, e adultez.