Opinião

Férias “grandes”

17 ago 2023 16:36

Que as férias sejam para todos esse momento especial de encontro consigo próprio, esse ligeiro ajustar de rota

As férias “grandes”, tenham elas o tamanho que tiverem e sejam onde forem, serão sempre um momento privilegiado de encontro com nós próprios, que não devemos deixar escapar. Decorram elas em festivo e quase ininterrupto bulício, sejam de mais elaborada organização e gestão de uma vida familiar alargada a outros parentes ou amigos, ou façam-se de tranquilíssimos e quase solitários dias em algum paraíso encontrado, será por entre este queridíssimo mês de Agosto que em algum momento nos encontraremos perante quem somos, tal e qual.

Estejamos num destino da moda, na casa grande de família, ou num refúgio sossegado, estaremos sem necessidade de cumprir obrigações profissionais, de corresponder a solicitações sociais, de combater o cansaço, ou de atentar no que à nossa volta nos exija atenção e acção; estaremos apenas nós, na nossa versão mais tranquila, despojada, e simples. Impedidos da actividade quase permanente do nosso dia-a-dia, aquietamo-nos, reparamos nas coisas mais pequenas que habitualmente não vemos, medimos o tempo pelo tempo com que nos demoramos nas coisas que fazemos e, com sorte, reencontramos, intacta, a nossa matriz.

Nas férias, em algum momento ouviremos com clareza o murmulho das folhas nas árvores agitadas pelo vento, o canto das cigarras no silêncio da hora do calor, o marulhar das ondas num final de tarde, ou um nome chamado à distância, com um pedido ou um aviso, tal como um dia foi certamente chamado o nosso, e perceberemos que o cerne do que somos é maravilhosamente claro, fácil e antigo.

Lembraremos verões distantes, com saudades de cheiros e de vozes e com o espanto de nos vermos, afinal, quase os mesmos que somos agora.

A verdade é que somos menos ansiosos, mais receptivos, menos exigentes, mais flexíveis, menos combativos e mais consonantes com o que a vida nos oferece do que aquilo a que nos habituamos a ser no dia-a-dia apressado e carregado de obrigações e de metas a atingir, que tantas vezes nos transformam em combatentes e nos retiram algum prazer naquilo que fazemos.

Precisamos de um tempo para ser, que o quotidiano quase nunca nos dá. Ao menos nas férias, precisamos de sentir que o tempo se escoa devagar, que o amanhã vai chegar sem nenhuma pressa e que será, porventura, muito semelhante ao dia que passou.

Precisamos de sentir que o passar das horas sem grande história não significa preguiça ou pasmaceira, que não é improdutivo e que não conduz ao aborrecimento, antes nos dá a possibilidade de uma renovada consciência de quem e de como somos que nos permita, talvez, recentrar alguns objectivos, avivar o propósito de vida ou reajustar o modo de fazer, para que possamos recomeçar depois mais autênticos, mais felizes.

Que as férias sejam para todos esse momento especial de encontro consigo próprio, esse ligeiro ajustar de rota, e esse tranquilo entendimento da simplicidade de que somos feitos.