Opinião

Cinema | Os Sophia e O Último Banho

7 jul 2022 13:11

A longa-metragem de David Bonneville é uma sublime obra de cinema de ficção com carimbo português

* Texto publicado originalmente na edição em papel do Jornal de Leiria de 30 de Junho de 2022

Os Sophia são os prémios da Academia Portuguesa de Cinema. Os mais importantes quando falamos de Cinema Português (uma espécie de Oscars deste retângulo à beira-mar plantado). Foi, então, no dia 17 de junho, que eu e o Bruno Carnide, nomeados para melhor curta-metragem de animação com O Voo das Mantas (ao lado de nomes sonantes como Joana Toste, Bruno Simões, Lorenzo Degl’Innocenti e Xosé Zapata), nos metemos a caminho da Gala de que todo o cinema português aguardava com ansiedade. Lá, encontramos amigos, conhecidos e fizemos novos. Vimos serem nomeados e galardoados filmes e realizadores que tinham estado, em maio, em Leiria, no Leiria Film Fest, como o Gonçalo Almeida, com a sua Rapariga de Saturno; e o Filipe Melo, com o Lobo Solitário, que arrebatou o prémio em Leiria e, ao final da noite, acabou por levar, também, o Sophia de melhor curta-metragem de ficção para casa.

Numa Gala onde o Cinema de Animação foi o grande assunto, assistimos ao Abi Feijó (produtor, realizador, programador e divulgador e um dos nomes de referência do cinema de animação em Portugal) receber o prémio Carreira; à Metamorfose dos Pássaros, o documentário de Catarina Vasconcelos apoderar-se do maior número de prémios; ficando o de melhor filme para a primeira longa-metragem de David Bonneville: O Último Banho.

A Metamorfose dos Pássaros, a longa-metragem documental que aborda a história familiar da realizadora, deve ter sido o filme português mais falado do ano que passou. Do O último banho, nem tanto. Talvez porque o primeiro foi o filme enviado para os Oscars, pela Academia. Mas o que é certo é que, sem dúvida, a longa-metragem de Bonneville é uma sublime obra de cinema de ficção com carimbo português.

O último banho conta a história de Josefina. “Josefina está prestes a fazer os votos perpétuos, mas tem de regressar à aldeia onde cresceu para o funeral de seu pai. Aí reencontra o sobrinho, abandonado pela mãe, e é compelida a adoptá-lo”. Se a temática já nos faz levantar a sobrancelha de interesse, deixem-me dizer-vos, também, que este é um filme repleto de silêncios que incomodam, seguro por uma brilhante condução de atores, associada a uma estética formidável, ao que se junta um ritmo, som, imagem e dinâmica de planos muito interessante.

A 25 de junho, passou na televisão pública, e ainda pode ser visto na RTP Play. Um bom plano para uma noite de verão.