Opinião
Дякую
Hoje como ontem, para mim não faz qualquer sentido aquele tipo de nacionalismo que considera os imigrantes como intrusos
Não sei por causa de quê, mas desde sempre percebi o planeta Terra como uma casa comum da humanidade. Talvez que a minha realidade, a de ter nascido e crescido num pobre e pequeno país, nas vizinhanças da grande Espanha, os livros que li e as conversas que em casa ouvia, me tenham obrigado a sentir-me, em pensamento, uma espécie de imigrante no mundo, à procura do que em Portugal me faltava e me sentia a ter direito e por isso, hoje como ontem, para mim não faz qualquer sentido aquele tipo de nacionalismo que considera os imigrantes como intrusos que chegam, como se fossem ladrões, aos países de acolhimento para, às vidinhas dos seus nacionais, tudo lhes roubarem! E eu sei que tenho razão. Oh, se tenho razão!
No dia vinte e nove de dezembro passado uma amiga ucraniana, a Yuliya, ofereceu-me bilhetes para assistir a um espetáculo organizado pela comunidade ucraniana de Leiria, intitulado “Sonhos Natalícios além-fronteiras” e apresentado como de estilo etno. Eu fui e ainda bem!
É que, de facto, ao que assisti foi a um maravilhoso concerto onde, entre outros, o Trio Melodia e o Quarteto “Beregynha” me brindaram com uma música e um canto tão, mas tão belos, que me senti como se estivesse sentada a ouvir um concerto, quase uma ópera, em São Carlos!
E eu chorei. Não, não consegui conter as lágrimas ao ver uma plateia repleta de pessoas imigrantes, a maior parte delas com uma formação e recursos educativos mais eficazes do que a da maioria dos portugueses a serem apelidados de ladrões da lusitana cultura quando, afinal, é tanta a riqueza que se dispõem a partilhar connosco.
Chorei também ao perceber como continua pobre este meu país: como podem músicos do gabarito daqueles que ouvi em palco não estarem (por falta do reconhecimento de estúpidas equivalências) a ensinar essa arte, às crianças portuguesas que, em tantas escolas públicas, continuam a tristemente, com a flauta e os singelos acordes que dela só aprenderam a fazer sair, a não educarem o seu gosto musical!
Confesso que ao chegar a casa, nesse dia, dei comigo a pensar em como me sinto pobre por quase nada saber dos saberes que imigrantes de outras nacionalidades trazem consigo para o meu país. Por isso, à “corja” feita de gente sem escrúpulos, sejam eles promotores do trabalho escravo, sejam eles políticos ou meios de comunicação social à caça dos votos ou de audiências de gente que há muito deixou de pensar eu só quero dizer: parem de se comportarem como imbecis!
Já aos imigrantes, pela riqueza cultural e económica que trazem ao meu país e com as suas “remessas”, pelo combate à pobreza que no meu mundo andam a travar eu só posso dizer, obrigada. Obrigada em todas as línguas e desta vez, sentido, mas mesmo muito sentido em ucraniano дякую!
Texto escrito segundo as regras do Acordo Ortográfico do Novo Acordo Ortográfico de 1990