Opinião
E amanhã?
Evoluímos. Contradizendo o estado imutável com que olhávamos para o mundo, Darwin abriu a mente, deixou cair as suas crenças e arriscou.
Charles Darwin revolucionou o mundo ao demonstrar que o que somos hoje não seremos amanhã.
Evoluímos. Contradizendo o estado imutável com que olhávamos para o mundo, Darwin abriu a mente, deixou cair as suas crenças e arriscou.
Simultaneamente, Alfred Wallace, noutro canto do mundo, chegou à mesma conclusão. Exatamente. O mesmo rasgo de desconstrução.
O que tinham em comum? Não sei, só sei que ambos observaram.
Olharam à sua volta, sistemática e consistentemente, e alcançaram o então inimaginável.
Talvez outros tivessem já concluído o mesmo antes, mas não o disseram em voz alta. E também por isso, durante anos se atribuiu apenas a Darwin a Teoria da Evolução, porque falou mais alto que Wallace.
Hoje reconhecemos a ambos o mérito de tão importante reviravolta para a forma como vemos o mundo atual, passado e futuro. Que nunca será igual, pois está sempre em permanente mutação, como já dizia o nosso poeta, “todo o mundo é feito de mudança”.
Einstein, talvez o mais universal cientista, não foi capaz de tamanha façanha. Desconstruiu tanta barreira. Gritou para quem quis ouvir, e para quem não quis também, que o tempo e espaço afinal são só um e que energia e matéria se substituem.
Mas não admitiu a evolução, mesmo quando as suas equações o afirmaram.
Assumiu sempre que o universo de hoje foi o universo de ontem e seria o universo de amanhã.
Ainda que o tempo e espaço se misturassem e a matéria e energia se trocassem. Mas afinal não, o universo também evolui. E o que é hoje, não foi ontem e não será amanhã.
Também a sociedade “é feita de mudança”. E a tanta temos assistido.
Contudo, estranha e simultaneamente, permanentemente resiste à mudança.
Todos queremos que tudo permaneça, que o ontem seja o hoje e o amanhã. E simultaneamente, que tudo mude. Queremos evoluir. Sim. Mas com segurança.
E o que estas mudanças nos têm oferecido são tudo menos segurança. A vacina salva o mundo. E no mesmo dia, a nova estirpe ameaça o mundo. E deixamos de saber o que fazer. Celebrar? Recear? O que será isto? Evolução? Sim, seguramente.
Evolução. E resistência. Também.
Como sempre na nossa espécie, desde que nos conhecemos. O tempo (ou espaço?) não teve ainda tempo (ou espaço?) para nos mudar, para nos fazer evoluir nesse aspeto.
Mas este novo vírus (novo para nós) sim, já evoluiu, e irá continuar a evoluir enquanto se adapta à nova espécie que agora “habita”.
Porque “todo o mundo é feito de mudança”. É “só” isso que está a fazer. Mudar. Adaptar-se à sua nova realidade.
Nós seguramente faremos o mesmo. Precisamos só de tempo (ou espaço?).
Até lá, esperemos pelo amanhã, diferente do hoje e incerto, confinado ou por confinar. Mas seguramente diferente.
A Biologia já há muito “sabe” que assim é.
A chegada de uma nova entidade a um nicho ecológico perturba-o, mas o tempo (e espaço) encontram sempre um novo equilíbrio, e todos se adaptam (bem) à nova interação.
A sociedade de hoje já conheceu a perturbação. Falta agora a adaptação. Demos-lhe tempo (e espaço). Amanhã.
Texto escrito segundo as regras do Acordo Ortográfico de 1990