Opinião
Em março, vota abril!
As eleições estão aí à porta, e vejo pessoas a deixarem-se levar pelas doces melodias da mentira
Passados 50 anos em que o país inteiro voltou a sorrir e a ter esperança, em que finalmente conseguimos dar ao “Tesouro” que é a liberdade (Manuel António Pina bem sabia) o seu verdadeiro valor, vemo-nos na triste situação de arriscar voltar atrás nas nossas próprias conquistas.
Uma épica falha de memória colectiva está a levar-nos a questionar se não estaríamos melhor com um bocadinho menos liberdade, por mais ordem, um bocadinho menos democracia, por menos “corrupção” - essa palavra tão mastigada e brutalizada pelos que são os mais corruptos de todos.
As eleições estão aí à porta, e vejo pessoas a deixarem-se levar pelas doces melodias da mentira, pela terrível tentação do “deixa ver no que dá”, pelo desorientador, ainda que legítimo, desespero de quem já não aguenta mais não conseguir pagar uma renda, uma conta, um prato de comida quente na mesa.
O PIB está ótimo, mas as nossas vidas nem por isso. Não há qualquer dúvida que nos últimos 50 anos a vida melhorou - mas ainda há muito Abril por cumprir! E há também muito do que já foi conquistado que está a ser fortemente ameaçado. Desde a Saúde, a Educação, a Habitação, passando pela qualidade de vida a que todos temos direito, temos de estar atentos e perceber quem realmente luta para que se cumpra a Constituição em que consagrou uma vida digna para todos, a 2 de Abril de 1976.
Tomando como exemplo uma das falácias circulantes: são os impostos que estão altos, ou são os serviços essenciais que estão a ser sistematicamente depauperados para que nos sintamos tentados a permitir privatizá-los - abdicando da sua justa universalidade? E estão altos para quem? Quando se propôs a diminuição dos impostos para os rendimentos mais baixos e o aumento para os mais altos, como votou cada partido na Assembleia?
Não se enganem - em vez do que dizem, vejam antes como agem e como votam os partidos que proclamam a “mudança no sistema”, mas que são financiados por esse mesmo sistema! Vejam quem defende verdadeiramente os interesses dos mais vulneráveis, dos mais pobres, de quem vive do seu trabalho.
Para se cumprir Abril, é preciso estar atento e informado. Para se cumprir Abril, é preciso votar Abril!